Seguindo a viagem, faço
um triste desvio neste relato para falar dos rastros dos incêndios que, já
visíveis na ida de Coimbra para o Porto, ficavam mais evidentes quanto mais
seguíamos para o norte de Portugal, rumo à Galiza. A chuva que nos acompanhou
por boa parte do caminho até era bem vinda. Nos dias seguintes, quando de Évora
voltávamos a Lisboa, também presenciamos a destruição na beira das rodovias e
mesmo ao longe, nos morros onde a vista alcançava.
Agora, enquanto
rememoro e escrevo sobre a viagem, recebo por diversas mídias a triste notícia
de que o fogo continua devorando Portugal. O mais assustador é ver notícias e
artigos que apontam como causa dos incêndios – se não todos, muitos deles –
ações criminosas, sejam de loucos incendiários ou de políticas irresponsáveis
ou, no mínimo, equivocadas. Este artigo
postado dias atrás no Facebook – publicado originalmente em 2013, mas
tristemente atual – descreve com clareza a situação. Nos telejornais a que
assistia, nos quartos de hotel, as questões que o autor aponta apareciam com
frequência.
Retomando o curso da
viagem para a região da Galícia, ou Galiza, passamos por Valença, última cidade
portuguesa, e cruzamos a ponte sobre o Minho, na fronteira com a Espanha, ainda
pela manhã, sob chuva e baixa visibilidade.
Obras de ampliação da ponte |
Nessa rota está Vigo,
cidade que tomou meu imaginário desde os anos 1960, nas aulas de literatura no
Colégio Visconde de Cairu, quando aprendíamos as lindas Cantigas de Amigo, escritas no português/galego medieval.
“Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo, e ai Deus se verrá cedo?...”. Nunca esqueci.
“Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo, e ai Deus se verrá cedo?...”. Nunca esqueci.
Com esse misto de
emoções, cheguei a Santiago de Compostela. A cidade não me pareceu muito
diferente da que tinha conhecido dez anos antes (o que são dez anos para "quem"
está lá há séculos?). Construções imponentes e uma sensação um tanto pesada, não
exatamente opressora ou angustiante. Austera, talvez. A chuva que insistia em
cair, ainda que mais branda do que na estrada, não ajudava muito e desisti de
permanecer na imensa fila para entrar na igreja, visitar o túmulo e abraçar a
imagem do apóstolo Santiago, por trás do altar. Quando passei por ali, em 2007,
senti um certo desconforto, pois recolhiam doação em dinheiro naquele momento e
local. Não sei se ainda funciona assim.
Fachada, em 2007 |
Fachada sendo restaurada, 2017 |
Não abracei
Santiago, mas consegui entrar facilmente na igreja por outra porta e fazer
minha saudação ao santo que leva tantos peregrinos àquela cidade. A passagem
destes grupos é emocionante.
Altar principal, com a imagem de Santiago |
Compostela, segundo
alguns pesquisadores, vem do latim Campus
Stellae (campo da estrela), numa referência à estrela que teria indicado a
localização do túmulo do apóstolo Santiago de Zebedeu, no século IX. A cidade
tornou-se um importante centro religioso e de peregrinação, desde a Idade Média.
Aqui você
fica sabendo mais sobre esta história.
Circulei um pouco
pelos arredores, descolada do grupo, já me conformando em ter de almoçar
sozinha. Por sorte, ou milagre, reencontrei, naquele mundo de turistas, um
simpático casal de Minas que viajava na excursão. Fui de pescado espanhol, um dos melhores almoços que
tive durante toda a viagem à Europa, o que não significa nada excepcional, mas
é que de modo geral a comida gringa me faz ter saudades do fogão de casa.
Deixamos a cidade
dos peregrinos rumo a Braga, cidade que foi minha base na viagem de 2007, por
conta da irmã que estava por lá fazendo o doutorado na Universidade do Minho.
Braga, a Bracara Augusta dos romanos, é muito linda. Como nossa excursão chegou
pela parte superior do Santuário do Bom Jesus do Monte, não passamos pela cidade e também não chegamos a descer
pelo elevador/funicular para ver o santuário de baixo, com sua incrível
escadaria. A chuva havia ficado para trás e um sol forte entardecia defronte do
Santuário.
Santuário Bom Jesus do Monte |
Escadaria ou escadório, como chamam. Foto da wikipédia |
Fim do dia, rumamos
para Guimarães, cidade
considerada o berço de Portugal. Como chegamos à noitinha, o tour ficou para o
dia seguinte. Jantamos no Centro Histórico (Patrimônio da Humanidade), no restaurante
Buxa, servidos por um jovem garçom mineiro que trocou o
Brasil por Portugal há algum tempo. Enquanto jantávamos, Chaplin se exibia numa
sessão do cineclube local, ao ar livre.
Manhã seguinte, pé
na estrada de novo, fazendo antes o tour de praxe. Além do Centro Histórico, passamos
pelo Paço dos Duques de Bragança, Castelo e Capela de São Miguel. Queria muito visitar
novamente o interior do castelo, como em 2007, mas ainda estava fechado e a
excursão tinha de seguir (sugeri à Abreu rever este roteiro, Guimarães merece).
Não sei se teria de novo habilidade para subir à parte mais alta, passando por
uma estreita abertura no topo de uma íngreme escada, mas ia tentar. A emoção e
a vista valem a pena.
Foto da Wikimedia |
Jardim defronte à Igreja N.Sra. da Consolação. Um nevoeiro encobria a paisagem. |
Os filmes são exibidos sob os arcos do Centro Histórico |
D.Affonso Henriques, o cara. |
Castelo de Guimarães, envolto em névoa. |
Dessa fascinante cidade,
seguimos para o Vale do Douro, rumo a Viseu, passando por São Gonçalo do
Amarante e Lamego.
Foto Guimarães:
Foto Braga:
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