quinta-feira, 28 de setembro de 2017

CRÔNICAS LUSITANAS (1) – Revisitando Lisboa

Lisboa, com o Tejo, vista do Castelo de São Jorge


Fernando Pessoa, encarnado em Álvaro de Campos, tem um poema chamado “Lisbon Revisited (1926)”. Embora não me lembrasse bem de seus versos, este título instalou-se na minha cabeça desde que decidi voltar a Portugal, dez anos após a minha primeira (e única, até então) viagem à Europa.



Pois lá estava Lisboa, lá estava Portugal. Bem diferentes do que eu tinha na lembrança. E eu me perguntava: mudei eu? Ou a cidade? Ou é a estação do ano? A temporada de férias? Provavelmente um pouco de tudo. E Fernando Pessoa, à porta do Café À Brasileira. Esperando por mim.

Em 2007, primeiro encontro.

Em 2017, tão quente ao sol que mal podia tocar. 



 A cidade fervia de calor e de turistas, verdadeira Babel. Muitos europeus do norte, louríssimos e rosados, ávidos por sol. Um calor para além do que eu esperava. Trânsito intenso, tuk-tuks, scooters e outros tipos de engenhocas sobre rodas. Muita gente, muita fila. 

Terreiro do Paço/Praça do Comércio

Rossio
Chiado


Vai e vem de ônibus de turistas

Minha viagem, na verdade, tinha um propósito mais ousado, para além de Portugal: visitar a grande Rússia. Resolvi, então, conjugar duas excursões (o que nem de longe é o melhor modo de viajar, mas tem suas compensações, especialmente para senhoras solitárias e que penam para carregar a mala): uma que iria de Estocolmo a Moscou e, para começar, uma pelas belas terras lusitanas, com uma esticadinha a Santiago de Compostela.



Ainda que com as frustrações de praxe (“queria ter ido ali, visto aquilo, visitado tal castelo...”), foi uma jornada bastante rica. Rever lugares guardados na lembrança, conhecer outros, testar minha memória tentando localizar ruas, praças, restaurantes.



Aos poucos, a Lisboa, com seus telhados vermelhos, seu sobe-desce, e o Tejo, grandioso, foram se tornando mais familiares. Reviver, agora sob sol forte, a Rua do Alecrim, descer até a Rua do Arsenal, rememorando a crônica que havia escrito dez anos antes, ao fazer este percurso, sob o frio do inverno português.
Rua do Alecrim
Rua do Alecrim, o Tejo ao fundo

A mesma placa, clicada em 2007

 
Jeitinho português de atrair os clientes (vitrine na Rua do Alecrim)






“Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -, / Transeunte inútil de ti e de mim,/ Estrangeiro aqui como em toda a parte,/ Casual na vida como na alma...”.  “Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...  / Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei, / E aqui tornei a voltar, e a voltar. / E aqui de novo tornei a voltar? / Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram...”, diz Pessoa em seu poema.

Praça do Comércio/Terreiro do Paço

Praça do Comércio/Terreiro do Paço e arco da Rua Augusta

Rio Tejo, junto ao Terreiro do Paço

Guardiãs do Tejo


Entre uma excursão e outra, uma semana soltinha em Lisboa, pude explorar bem a cidade, usei e abusei do metrô, bati perna, subi e desci incontáveis ladeiras. Visitei vários lugares que tinha programado, descobri outros. E me prometi fazer mais isso, mais vezes, no meu Rio de Janeiro, cidade cada vez menos gentil, mas ainda bela e cheia de histórias, da História.



A segunda etapa da viagem, Países Bálticos e Rússia, foi como entrar numa nave espacial e ir para outro planeta. Outro clima, outras paisagens, outras moedas, outras línguas, outros hábitos. Uma experiência e tanto! Mas estas já são outras crônicas.