sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

SETE DIAS EM LISBOA (final): memórias, segredos da alma e um “voo” sobre a cidade

Rua do Alecrim com o Tejo ao fundo


7º dia: Para me despedir de Lisboa (se bem que voltaria a vê-la antes de embarcar para o Brasil), escolhi voltar ao Chiado e procurar lugares dos quais guardava boas memórias, como as Ruas do Alecrim e do Arsenal, por onde minhas andanças no inverno de 2007 me inspiraram uma crônica bendizendo estar longe do verão carioca (que você pode conferir aqui).

Descendo a Rua do Alecrim





 


Neste verão tudo parece diferente, salvo por algumas lojas que se percebe que estão ali há décadas, do mesmo jeito.




Flanei (e suei) pelas ruas e praças e vielas, descobri o Cais do Sodré, praças e arte urbana engajada. Na Rua do Arsenal almocei um bom salmão grelhado na Pérola do Tejo (o nome me seduziu), onde a cozinheira/dona, uma portuguesa gorduchinha típica, vem te servir na mesa. 

Cais do Sodré

Cais do Sodré
Cais do Sodré








A despretensiosa Pérola do Tejo, na Rua do Arsenal

Na Praça Camões, um casal brasileiro me pediu para bater uma foto. Aproveitei para pedir um clique meu com a placa da Rua do Alecrim ao fundo. Não ficou como eu queria, mas vá lá...

Praça Luís de Camões e entorno


 A placa da Rua do Alecrim ficou meio escondida.

Resolvi procurar o Convento do Carmo, por onde havia passado com o amigo Artur, dias antes. Queria visitá-lo por dentro. Seguindo em parte a intuição, a memória, o senso de orientação (difícil, com tantas ladeiras e vielas) e as informações, cheguei lá. O Museu Arqueológico do Carmo (MAC) fica dentro das ruínas da antiga Igreja do Convento de Santa Maria do Carmo, fundado em 1389. O templo, em estilo gótico, foi quase todo destruído pelo terremoto de 1755. Parte foi reconstruída a partir de 1756, mas a restauração foi suspensa em 1834. Algumas estruturas, contudo, são originais dos séculos XIV e XV.
  
Entrada de acesso às ruínas do Carmo. Atrás deste portão muita emoção me aguardava.




Ali vivi uma experiência difícil de descrever, semelhante à que tivera dez anos antes, na Escola de Sagres, no Algarve. Ao cruzar o portão que dá acesso ao interior das ruínas, tive uma forte emoção, uma tristeza profunda, uma saudade, algo que fez brotar lá do fundo um choro que me pegou de surpresa e não tive como conter. Mistérios da vida. E da morte. Lembrei-me também das ruínas das Missões Jesuíticas, na nossa América do Sul.
 
Esta é a visão que se tem ao se cruzar o portão de entrada.
 









Portão de entrada visto da parte interna



São João Nepomuceno, século XVIII



Meio deslocada no tempo e no espaço, já ia embora quando me dei conta de que, além das ruínas do convento, há o museu, com um acervo muito rico e interessante.


Túmulo do Rei D.Fernando I - século XIV (cerca de 1382) - restaurado em 2001/2002.






Vista da cidade a partir da loja do Museu do Carmo


A viajante que saiu do Convento já não era a mesma que entrou. Essas experiências, que nos levam a lugares não imaginados, dentro de nós, são viagens dentro das viagens que fazemos. E, tanto ou mais que as fotos ou souvenires, são o que de mais precioso podemos trazer de nossas andanças pelo mundo.

Nesse clima interior, passei ainda por escadarias, pátios, vislumbrando aqui e ali a cidade lá embaixo. 





O Castelo de São Jorge ao fundo.


Não podia deixar Lisboa sem me despedir de Pessoa, claro. Voltei ao Café À Brasileira para abraçá-lo e dei a sorte de achar uma gentil turista que me clicou com o poeta. 
Prometendo ao poeta não demorar 10 anos para revê-lo. De preferência numa estação mais fria.

Parti para a última etapa da expedição exploratória em Lisboa: o Teleférico que, até então, só tinha visto de longe. Embarquei numa das cabines um tanto temerosa, sozinha, e lá fui eu, sacolejando (difícil ficar de pé para fotografar e gravar vídeo), ouvindo o vento uivar lá fora, invocando todo meu estoque de coragem (não gosto nada de alturas). Valeu a pena, o visual é muito bonito. 

 







Chegando à Estação do Oceanário




 De volta à estação Parque, do Metrô, para dormir a última noite no Fenix Urban. Mala arrumada, passagem e passaporte checados. Amanhã, sábado 9/9/17, embarco às 11h20 para Estocolmo, rumo ao “desconhecido”. Um friozinho na barriga, mas muita expectativa. Que venham os vikings!