quarta-feira, 10 de julho de 2019

BOA NOITE... E BOA SORTE


“Olá, tudo bem?”. Assim, Paulo Henrique Amorim costumava saudar os que lhe assistiam, na TV, no Youtube. A voz, inconfundível. Para as despedidas, o jornalista adotou o bordão de um colega, o norte-americano Edward R. Murrow. “Good night, and good luck”, ou, “Boa noite, e boa sorte” era marca registrada do repórter da CBS.

EUA, década de 1950. Eram tempos sombrios, como os que vivemos hoje, quando estavam sob constante risco a democracia e a liberdade de imprensa. Murrow, e seu produtor Fred W. Friendly, enfrentaram o Senador Joseph McCarthy e combateram o clima de paranoia gerado pela “ameaça comunista”. Boa noite, e boa sorte foi às telas num belo filme, dirigido por George Clooney, em 2005.


David Strathairn, como Edward Murrow, em "Good Night, and Good Luck".
Não convivi com o PHA. Tive apenas um encontro com ele, no lançamento de seu livro Manual Inútil da Televisão, na Livraria Leonardo da Vinci, em março de 2017. Fico totalmente sem jeito para pedir que me fotografem, tanto ao objeto da foto, no caso o autor/jornalista, quanto ao possível fotógrafo, alguém que esteja por perto. Mas, não quis perder a oportunidade de ter aquele registro. Não é todo dia que podemos ter contato com alguém cujo trabalho admiramos. A foto não ficou lá essas coisas, mas, especialmente hoje, dia em que perdemos o PHA, tem um valor especial. Foi um rápido contato, mas pude dizer a ele que seus “Bichos Curiosos” (quadro fofo que ele apresentava no Domingo Espetacular, da TV Record) era o que salvava os domingos na TV aberta.



Naquele dia, comprei, e ele autografou, dois livros: o citado Manual e O Quarto Poder. É deste último que retiro um trecho e reproduzo aqui, como homenagem a esse profissional ético, corajoso, inteligente e de humor refinado. Por isso, afastado de seu último posto, na emissora de um certo bispo. Foi embora muito cedo, mas com a dignidade que aqueles que rastejam pelas sombras e fogem da luz da verdade jamais conhecerão.

Seguimos aqui, no tempo que nos cabe viver, repetindo uns aos outros: “Boa noite... e boa sorte”.







.“Good night, and good luck” no IMDb: https://www.imdb.com/title/tt0433383/

quarta-feira, 29 de maio de 2019

CRÔNICAS DO CARAÇA (5) – Trilhas, Mirante, Chuva e Despedida

Janela x Windows


Começamos o terceiro dia de exploração no Caraça descendo pela estrada de acesso ao Santuário para tomar a trilha que vai ao Banho do Imperador e ao Tanque Grande. 






Saindo do asfalto, pegamos as Trilhas da Anta.   Passamos pelo Banho do Imperador, que nos pareceu bem modesto para um monarca. Talvez fosse esta mesmo a ideia. Sendo mais discreto, estaria mais adequado a Sua Alteza.




 

Seguimos depois para o Tanque Grande, numa caminhada de cerca de 20 minutos. Um belo visual nos esperava. Uns pingos de chuva já molhavam as lentes das câmeras, mas conseguimos fazer alguns registros.

  


Seguindo pelas Trilhas da Anta






Na volta, a chuva já caía forte e chapinhávamos nas poças. O solo é arenoso em alguns trechos, com muitas pedras. Meu abrigo laranja, escandaloso na cor, mas frágil no quesito proteção, não segurou tanta água. Cheguei de volta ao quarto molhada até os ossos. Mas feliz, como não?

Enquanto percorríamos as trilhas, avistamos ao longe a capela que pretendíamos conhecer à tarde, mas com tanta chuva e sendo uma trilha mais pesada, ficou só na vontade. 


  De volta à pousada, onde cheguei deixando um rastro de água atrás de mim, tratei de tomar logo um banho morno e colocar roupas e calçado secos. Após o almoço, fiz mais umas incursões pelas redondezas, desanimada de ir mais longe, pois a chuva havia cessado, mas o céu continuava carregado. Aproveitei para conhecer o Centro de Visitantes onde me juntei a um grupo que assistia a uma palestra sobre a RPPN. Ali ao lado, está plantado o carvalho francês, trazido da Europa há mais de um século.

Um belo e centenário Carvalho Francês

Informações e educação ambiental no Centro de Visitantes

Identificando as pegadas de cada animal





O guia Aldo, sempre convincente, me encorajou a subir até o Mirante do Cruzeiro, e lá fomos nós, três valentes senhoras, mais nosso incansável guia. Enveredamos pelo caminho a partir do arco por onde o lobo aparece à noite. Descemos um trecho e logo encontramos a “Pedra do Imperador” onde, pelo que contam, Pedro II teria escorregado. Fui solidária ao meu querido marido e dei uma “escorregada” também.




Aqui, dizem, D.Pedro II escorregou em 1881.

A subida até o Mirante não chega a ser difícil, mas é uma trilha nível médio, mais puxada do que as que havíamos percorrido. Ainda mais que estávamos com pressa, temendo a chuvarada que ameaçava cair de novo. O esforço foi recompensado. A vista é belíssima e se tem a noção real (se é que isso é possível) da grandiosidade do Santuário. 









A vegetação surpreende.





Viagem chegando ao fim, arrumar mala, embalar roupas e botas encharcadas, tomar o café com bolo na lanchonete, correr na lojinha para comprar alguns souvenirs (não só para ter uma lembrança, mas como apoio material ao Caraça).

Após o jantar, mais uma noite de espera vã pelo lobo. Resisti até tarde, conversando com um dos monitores. Todos são muito gentis e bem preparados para atender e orientar os visitantes, assim como os demais funcionários. O complexo todo é muito organizado. As trilhas e atrativos da RPPN também são bem sinalizados.

Se o lobo não veio, um visitante nada agradável resolveu aparecer na minha cama e espetar minhas pernas: um besouro verde (não era o dos quadrinhos) que me deu o maior susto e me fez pular da cama apavorada. Após uma árdua batalha com o intruso, consegui prendê-lo sob a cesta de lixo e pude voltar a dormir. Bem, podia ser pior, se fosse “aquele” inseto urbano. Aí eu possivelmente teria acordado o Santuário inteiro.

Na manhã seguinte, depois do último café da manhã naquele refeitório aconchegante, prontos para a partida, posamos junto à lanchonete, próxima ao carvalho francês. Nada de adeus, Caraça. Um até breve é bem melhor. Afinal, minha xará tinha razão.



 
Teresa Cristina, na manhã do dia 17 de fevereiro de 2019, desejando já voltar aqui.

(A situação das barragens na região de Barão de Cocais e Santa Bárbara se agravou depois desta nossa viagem, em fevereiro, e outra excursão, que aconteceria em junho, foi cancelada. Mas voltarei lá, em excursão ou não.)



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