quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

DIÁRIOS DA PARAÍBA 2: Tartarugas urbanas



O Projeto Tamar é conhecido em todo o Brasil. Quem não se comove ou pelo menos se alegra ao ver as tartaruguinhas recém-nascidas, correndo para o mar, guiadas pelo instinto ancestral? Esses incríveis animais nascem com uma espécie de GPS que grava as coordenadas do local onde nasceram e, quando adultos, retornam àquele exato local para colocar os ovos.

O Projeto Tamar/ICMBio está presente em nove estados brasileiros, com bases de pesquisa e Centros de Visitantes. Tem patrocínio da Petrobras, além de outros apoios, e está vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. Visitei um desses Centros quando estive em Aracaju-SE, em julho deste ano.

Na Paraíba há também um corajoso projeto que protege tartarugas marinhas, mas não recebe apoio algum dos órgãos oficiais. Sobrevive graças ao trabalho de voluntários. É o Projeto Guajiru de tartarugas urbanas. A sede improvisada, mas nem por isso menos atuante, funciona no Bar do Surfista, na praia de Intermares, na Grande João Pessoa.
Bióloga conversa com turistas
  

Uma das biólogas que atua no Guajiru nos explica que as tartaruguinhas, ao saírem dos ovos, são atraídas pelas luzes da cidade e, em vez de correrem para o mar, correm para o asfalto. O resultado é fácil de imaginar. Ou morrem ainda na areia ou na vegetação ou são atropeladas. Estranho mundo esse criado pelos homens em nome do desenvolvimento: tartarugas marinhas morrendo por atropelamento no asfalto. Uma triste ironia.

Os voluntários, além de promover educação ambiental, identificam e protegem os ninhos das tartarugas numa faixa do litoral paraibano, para que não sejam destruídos pelos banhistas. Depois, monitoram cada ninho para que os bebês tartaruga, ao nascerem, possam alcançar o mar. E, às vezes, promovem a “cesariana de areia”, quando se torna necessário intervir para que os filhotes consigam romper a camada de areia que os cobre.

A quantidade de lixo recolhida pelos voluntários, no mar ou dentro do corpo das tartarugas mortas, é impressionante. No caso de sacos plásticos, elas os ingerem e eles obstruem seu aparelho digestivo, levando-as à morte. Uma situação que, infelizmente, vemos em várias partes, litoral e interior, de nosso país.

Uma pequena lojinha improvisada é uma das poucas fontes de renda do grupo. Quem quiser ajudar, mesmo de longe, pode adotar um ninho da lista disponibilizada no site do Projeto, quando da temporada reprodutiva.  O valor para adotar cada ninho é R$ 100,00. Os pais adotivos ganham certificado de padrinho, com o número de filhotes  nascidos e uma foto desses filhotes indo para o mar.

Apesar das dificuldades, eles não salvam apenas tartarugas, mas “salvam” também crianças e jovens em situação de rua. Dão a esses meninos e meninas, não apenas informação e algum conforto material, mas também respeito, afeto, oportunidade de desenvolverem autoconfiança e mostrarem seu valor. Um desses jovens, Fininho, brilha hoje no mundo do surf, vencedor nas ondas e no seu cotidiano. Tal como as tartaruguinhas, ele, com o apoio do Projeto Guajiru, pôde guiar-se pelas luzes da vida e não as da morte.

Todo apoio a esses dedicados voluntários! Que sejam enxergados por aqueles que administram as verbas públicas, seja no Governo Federal, no estado ou no município. Um trabalho assim está acima de interesses políticos, caso seja este um dos motivos pelo qual o Projeto não recebe apoio.  A Paraíba precisa e merece entrar no mapa do Projeto Tamar. 

2 comentários:

Mario disse...

Eu fui lá várias vezes e parece uma idéia brilhante. é uma ótima maneira de ensinar tudo sobre tartarugas. Além disso, as praias são lindas além. Fui com minha esposa e meu cachorro e adorei. Eu tuve que comprar Frontline porque meu estava infectado com pulga.

Tecelã disse...

Pois é, Mário. Só não entendi ainda porque não têm apoio do Projeto Tamar. Até escrevi pra eles (Tamar) mas não tive resposta.
Mas é bacana ver como levam adiante seu trabalho, mesmo com dificuldades.
Nosso apoio e divulgação são fundamentais.
Obrigada pela visita e comentário. Abçs.