Machu Picchu esteve em meus sonhos desde sempre. Fascinada por nossas
origens, civilizações antigas, desejei profundamente ver de perto a cidadela
Inca, pisar e tocar aquelas pedras. Mas meu desejo sempre pareceu distante
demais da realidade.
Quando meu irmão nos deixou, em 1999, a foto que ele tinha em seu quarto
num porta-retrato era de sua viagem ao Peru (não sei o ano). E esta foto desde
então está comigo. Se aquele já era para mim mais que um simples roteiro de
viagem (e eu colecionava opções de várias agências), visitar Machu Picchu
passou a ser algo como uma missão.
Por várias vezes adiada – tanto por circunstâncias externas como pelo
medo de fazer uma viagem deste tipo sozinha – percebi que não podia mais
esperar. Sem dar tempo ao medo e à vontade de desistir, corri à Agência Abreu e
fechei o pacote.
Sábado, 25 de junho de 2016, 64 anos de vida recém completados, chegou enfim
o dia de conhecer a Velha Montanha. O cansaço dos dias anteriores, poucas horas
de sono, altitude, tudo desapareceu rumo à estação de Ollantaytambo.
Ansiedade e emoção na plataforma, selfie com a Irma, embarcar no nosso trem Vistadome.
Irma e eu fomos “premiadas” com os melhores lugares: primeiro vagão, 2
assentos bem na frente, ao lado da cabine do maquinista. A estrada de ferro, o
rio Urubamba, as montanhas nevadas ao longe, toda a paisagem se abria à nossa
frente. Há muito tempo não vivia uma sensação de alegria tão pura e verdadeira.
Fui tirando fotos, gravando vídeos, claro, mas nem de longe superei a
companheira mexicana e suas selfies. Ela se esbaldou.
Uma hora e meia, que passa voando, e estamos em Águas Calientes onde o
guia Fidel da Viajes Pacífico nos esperava, no meio da multidão que circula ali.
Vamos então para a segunda etapa do trajeto, que é feito em microônibus. A fila assusta. É enorme. Mas anda rápido, são muitos ônibus indo e vindo. E como sobem e descem a montanha! O mais sensato é abstrair dos penhascos e da mão dupla e aproveitar o visual.
Vamos então para a segunda etapa do trajeto, que é feito em microônibus. A fila assusta. É enorme. Mas anda rápido, são muitos ônibus indo e vindo. E como sobem e descem a montanha! O mais sensato é abstrair dos penhascos e da mão dupla e aproveitar o visual.
Ingresso na mão, começamos o percurso que levou mais de três horas de subidas e descidas. O
mundo parece se encontrar ali. São visitantes de todo canto, cores e línguas. Lembro-me
agora do Eduardo Galeano e aquele menino que, pela primeira vez diante da imensidão
do mar, pedia ao pai para ajudá-lo a ver. É mais ou menos isso que acontece. Só
que é uma imensidão de montanhas e vales e rochas e terraços verdes.
Subimos, com o cuidado de sempre, parando para tomar fôlego e para
contemplar. Não sei se todos sentem isso, mas há uma atmosfera de comunhão, de
fraternidade, uns ajudam os outros na trilha pedregosa e, às vezes, perigosa. Quantas
mãos me foram estendidas, gente do nosso grupo, estranhos...
É muita fofura andina! |
Caminhar, subir, sentar, meditar, se conectar com a energia do lugar,
com o divino. Se há alegria, há também um sentimento de introspecção e reverência
por toda história que aquelas montanhas testemunharam, de glórias, beleza,
sacrifícios e destruição.
Fidel foi muito atencioso e agradeço a ele a iniciativa de tirar várias
fotos minhas (e sem me esquartejar ou deixar o horizonte escorrendo...). Belas
lembranças que guardo nos olhos junto com as que guardo na alma.
Mas... o dia foi avançando e o sol ficando cada vez mais forte. Sempre
focada no frio, não levei roupas mais leves na mala e, imprudência total, não usei
chapéu, indispensável neste dia. Logo eu que não dispenso um sombrero no calor do Rio ou onde quer
que o sol castigue a cabeça da gente.
Calor, mais o cansaço, a altitude, o esforço físico desde os primeiros dias no Peru, ao final da jornada eu sucumbi a um mal estar generalizado. Seguir naquele microônibus apertado ziguezagueando montanha abaixo foi uma prova de esforço digna de medalha olímpica.
Calor, mais o cansaço, a altitude, o esforço físico desde os primeiros dias no Peru, ao final da jornada eu sucumbi a um mal estar generalizado. Seguir naquele microônibus apertado ziguezagueando montanha abaixo foi uma prova de esforço digna de medalha olímpica.
Pouparei os meus queridos leitores dos detalhes sórdidos, só digo que a volta foi sofrida. Aqui uma lição: se possível, pernoitar em Águas Calientes ou algum lugar não muito distante quando for a Machu Picchu. Encarar três horas de trem e mais um ônibus para voltar a Cusco, chegando ao hotel às 8h da noite gelada, seria cansativo de qualquer modo, com uma rebelião suicida dentro do abdômen então...
Jejum forçado, enjôos, desânimo, naquela noite desejei estar na minha cama, comer a minha comidinha... As 24 horas seguintes foram difíceis, mas agradeço aos deuses não terem permitido que o receio de passar mal tivesse me impedido de fazer esta viagem.
Qualquer que tenha sido o motivo de tamanho mal estar, prefiro pensar que o que passei foi necessário, como uma “faxina”, uma desintoxicação no organismo, desencadeada pela energia que absorvi do deus sol, Inti, a quem invoquei lá em cima. Por que não?
O que importa é que o que ficou desse dia foi a sensação de missão cumprida. Passaporte carimbado. Orgulhosa de mim!
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