Em seu livro "Consumidores e Cidadãos", Néstor Garcia Canclini vê no consumo novas
possibilidades de se exercer a cidadania. Segundo o autor, com a degradação da
política e a descrença em suas instituições, as regras abstratas
da democracia que antes preencheriam as lacunas deixadas pelas diferenças
sociais perderam terreno para outras formas de participação na sociedade. Um modo
de participação se manifesta pelo ato de consumir bens pessoais e se baliza
pelos meios de comunicação de massa.
Não se trata, contudo, de um louvor ao consumismo.
A proposição de Canclini é mais abrangente: ele faz uma análise crítica sobre o
papel de consumidor e de cidadão, afirmando que “as sociedades se reorganizam
para fazer-nos consumidores do século XXI e, como cidadãos, levar-nos de volta
para o século XVIII”. A posição de Boaventura Sousa Santos,
analisando a greve geral que irrompeu na Europa em 2011, de certa forma vem ao
encontro dessa afirmação do teórico argentino. Segundo Boaventura Santos, tal greve
“é mais defensiva que ofensiva, visa menos promover um avanço civilizacional do
que impedir um retrocesso civilizacional”. Ou seja, no momento
histórico que atravessamos, mais do que crescer, avançar, é necessário garantir
direitos e padrões de cidadania já conquistados.
Voltando-se para as novas tecnologias, Canclini
acredita que, mais
do que as revoluções sociais, ou o estudo das culturas populares ou ainda
algumas expressões alternativas na política e na arte, as tecnologias
audiovisuais de comunicação funcionaram como um motor de propulsão para o
desenvolvimento do público e exercício da cidadania. O autor faz aqui ressalvas,
observando a existência de um retraimento na presença do cidadão nos espaços
públicos.
O teórico argentino afirma que “estes meios eletrônicos que fizeram irromper as massas populares na esfera pública foram deslocando o desempenho da cidadania em direção às práticas de consumo”. Decorridos alguns anos desde a publicação do livro, é animador ver que os cidadãos estão cada vez mais ocupando os espaços públicos, como demonstram as últimas manifestações no Brasil e no exterior.
O teórico argentino afirma que “estes meios eletrônicos que fizeram irromper as massas populares na esfera pública foram deslocando o desempenho da cidadania em direção às práticas de consumo”. Decorridos alguns anos desde a publicação do livro, é animador ver que os cidadãos estão cada vez mais ocupando os espaços públicos, como demonstram as últimas manifestações no Brasil e no exterior.
Ao analisar a trajetória do cidadão como
consumidor, o autor vê sua passagem da condição de “representante de uma
opinião pública ao cidadão interessado em desfrutar de uma certa qualidade de
vida”. Um indicador desta troca de papéis seria, segundo
ele, o fato de que as formas argumentativas e críticas são substituídas pela
mera fruição de espetáculos nos meios eletrônicos, fugazes e esvaziados de reflexão.
Canclini destaca ainda que, a partir da segunda metade do século XX, as modalidades audiovisuais e massivas (rádio/TV) de organização cultural vão se subordinando a esquemas empresariais, cujo principal objetivo é o lucro. Ao reivindicar uma mídia livre, mais investimentos em educação e cultura, ao se propor a ser participativa e não apenas espectadora, a sociedade vai também revertendo essa situação observada por Canclini. E já vai contabilizando algumas vitórias.
Canclini destaca ainda que, a partir da segunda metade do século XX, as modalidades audiovisuais e massivas (rádio/TV) de organização cultural vão se subordinando a esquemas empresariais, cujo principal objetivo é o lucro. Ao reivindicar uma mídia livre, mais investimentos em educação e cultura, ao se propor a ser participativa e não apenas espectadora, a sociedade vai também revertendo essa situação observada por Canclini. E já vai contabilizando algumas vitórias.
O teórico argentino afirma que “a conjunção das
tendências desreguladoras e privatizantes, com a concentração transnacional das
empresas, diminuiu as vozes públicas, tanto na ‘alta-cultura’ como na popular”
e que o resultado de tal concentração de poder sobre a esfera cultural nas mãos
de uma “elite tecnológico-econômica” irá gerar um “novo regime de exclusão das
maiorias incorporadas como clientes”. Ou seja, as
maiorias, na verdade, equivalem a minorias quando se trata de ter
representatividade.
Que as vozes das ruas se tornem cada vez mais
fortes, conscientes, para que os “clientes” sejam também autores,
protagonistas, construtores de uma sociedade onde prevaleça a justiça, a
fraternidade, a harmonia.
2 comentários:
A exclusão e a inclusão caminham juntas nesse mundo. Dependendo do ponto de vista e do local do observador, podemos estar inseridos ou afastados desses círculos de convivência e interlocução que dão vida ás relações humanas.me pergunto se devemos analisar apenas o consumo ou devemos partir para analisar o modelo de produção e a mentalidade mecanicista que considera seres-huamnos como peças de engrenagens e o mundo como uma grande máquina. A dinãmica das relações sociais nos impacta com o inusitado e o imprevisto. O que hoje se considera excluído, amanhã poderá estar inserido num contexto diferente. As classificações são mutantes. O mundo está em aberto...
Pois é, Gaulia. Não podemos colocar conceitos em caixinhas estanques, com um rótulo. A sociedade é um organismo vivo, cambiante.
Sem dúvida o consumo é apenas uma face de toda uma engrenagem, a mais visível, talvez. Mas mudando as prioriades de consumo acredito que mudam também as de produção e mesmo as relações sociais.
Este texto, com algumas adaptações, faz parte de um dos capítulos da minha dissertação e me pareceu oportuno diante dos acontecimentos das últimas semanas.
Valeu pela visita e comentário, sempre oportuno. Grande abraço.
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