No cinema 2 da Caixa Cultural a tela exibe “Estados
Unidos x Lennon”. A sala está quase lotada, gente de toda idade. Fãs, curiosos,
quem ama os Beatles, quem ouviu falar, quem está ali por acaso...
No outro extremo do mesmo piso, a Mostra “World Press
Photo” exibe os horrores da guerra na Síria. E, em meio a algumas belezas e
curiosidades, outros horrores também.
O filme desfia a trajetória do Beatle mais rebelde, esmiuçando
as ligações que o tornaram persona non
grata nos EUA. A atualidade da história que vemos se desenrolar diante de
nossos olhos é impressionante. Naquele final dos anos 60 e começo dos 70 eu, e
acredito que muitos outros, não tinha conhecimento da dimensão dos protestos
que agitavam a América. Não me recordo bem... em 1970 eu havia concluído o que
hoje é o ensino médio (ou 2º grau... mudam os nomes e o ensino só piora) e tivera de parar os estudos, para trabalhar.
Não convivia num ambiente onde se conversasse sobre política, a situação do
país... enfim, vivia alienada. Sob a forte censura da ditadura militar, a imprensa
não trazia muita informação.
Os Beatles, juntos ou separados, eram então “apenas” caras
geniais, reunidos por uma maravilhosa conspiração dos astros, que
revolucionaram a música e com tal qualidade que suas obras estão aí até hoje,
com o mesmo vigor. Mas o garoto rebelde de Liverpool, rejeitado pelo pai e, de
certa forma, também pela mãe, criado pela tia Mimi, queria mais do que
dinheiro, fama e prestígio com sua arte.
Olhado por vezes apenas como um astro excêntrico, ou
um louco, ou um drogado, ou um sonhador, em suas falas John Lennon revela uma
lucidez inquestionável. O garoto que desde criança tinha um único desejo,
tocar numa banda de rock, sentiu que tinha de ir além dos palcos e estúdios de
gravação. Assim, subiu em palanques, uniu-se aos Black Panthers, protestou em
versos e cartazes contra a guerra do Vietnã, enfim, incomodou o FBI, Nixon,
Hoover e todo um stablishment. Sempre
pacificamente, inspirado por Ghandi e Martin Luther King.
Ironicamente ao empreender uma batalha jurídica contra
a Imigração para permanecer nos EUA, estava lutando para ficar na cidade onde,
alguns anos mais tarde, seria assassinado.
As imagens permanecem na mente, as músicas ecoam nos
ouvidos, enquanto deixo a sala de cinema, olhos marejados, coração maior do que
o peito. A garota que amava os Beatles é hoje uma senhora que ainda os ama, de
um jeito mais profundo, mais cúmplice. Como queria ter vivido mais de perto,
mais intensamente, aqueles acontecimentos!
Aida, foto de Rodrigo Abd |
A foto vencedora do prêmio “World Press Photo 2013” se
escancara na minha frente. Os conflitos se multiplicam, a mídia mente ou induz
ao erro, a publicidade toma conta de todos os espaços, nos entorpece, o excesso
nos distrai.
Give peace a
chance, gimme some truth...
continuamos pedindo paz para o mundo, queremos a verdade, mas parece que hoje
nossas vozes, curiosamente, ainda que facilitadas por tanta tecnologia, não são tão
potentes como há algumas décadas.
Gimme some truth: http://www.youtube.com/watch?v=dlzrNKN3rZI
Give peace a chance: http://www.youtube.com/watch?v=dlzrNKN3rZI
World Press Photo 2013: http://www.worldpressphoto.org/awards/2013
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