A
premiada peça de Yasmina Reza vai para as telas sem perder seu vigor. O velho Polansky faz cinema e passa longe
do teatro filmado. E teve o bom senso de não esticar seu filme, que dura menos
de uma hora e meia.
A
briga de dois garotos deflagra uma guerra entre dois casais, guerra que começa
fria e com diálogos calculados e vai tomando outros rumos. A discussão do
quarteto oscila entre a polidez convencional, a agressão e o ridículo. E
recomeçam e recomeçam, numa ciranda onde cada um quer justificar a si mesmo,
apontando as fraquezas – ou hipocrisias – do outro. Soa um tanto familiar, não?
Durante
o palavrório, a temperatura sobe e desce, Lembrar seus heróis de infância, por
exemplo, é para os homens um momento de
descontração. A guerra verbal vai expondo problemas camuflados, muito além
daquele que originalmente os reuniu. Interferências externas vêm pôr mais lenha
na fogueira e trazer mais munição para os ataques entre os casais, entre os
homens, entre as mulheres, entre eles e elas. Conforme a conveniência, o
inimigo pode se tornar o aliado.
Alfinetadas,
ou melhor, agudas estocadas na indústria farmacêutica fazem o drama/comédia
ultrapassar as fronteiras da vida privada para as questões sociais. A dependência
tecnológica também diz presente (a
vida do pai está no celular e a falta deste aparelhinho é a única coisa que
pode fazê-lo, literalmente, desabar). O “politicamente correto” também não é
poupado da acidez do texto. Ácido, mas cheio daquele humor meio torto, que
incomoda, mas faz rir.
Bom
ver duas atrizes – Jodie Foster e Kate Winslet – amadurecendo, com a beleza de
seu tempo e apurando seu talento, levando com total competência seus papéis. E
os rapazes - Christoph Waltz e John C. Reilly - estão à altura das jovens senhoras.
Polanski
vive há décadas na Europa, já que não pode voltar aos EUA, onde foi condenado
por ter mantido relações sexuais com uma garota de 13 anos. O diretor polonês deve
ter tido um gosto especial em fazer este filme, um retrato da sociedade
ocidental, seus vícios, suas fraquezas, pintado com palavras que são como
flechas pontiagudas, embebidas em generosas doses de Scotch.
DEUS DA CARNIFICINA (God
of carnage)
Direção:
Roman Polanski
Alemanha/França/Polônia,
2011, 80 min
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