Assisti no dia 13, numa sala meio vazia (ou meio cheia), ao filme do Fábio Barreto, “Lula, o filho do Brasil”, baseado no livro de Denise Paraná. Tendo lido várias coisas a respeito, contra e a favor, e fazendo um balanço, destaco comentários do jornalista do Recife, Urariano Mota, divulgados na lista Cinemabrasil:
“Essa é uma obra que a gente vê com algumas idéias prévias, porque nunca, na história, se falou tão mal de um filme. Nos jornais, na tevê, nas revistas, antes da estréia o filme que não conhecíamos era propaganda eleitoral, vigarice, com uso desonesto da máquina pública. Hoje, nos jornais, o filme mudou para a categoria de obra medíocre, indigna de ser vista. [...]. Sabemos todos quanto os meios de comunicação prezam a inteligência e sensibilidade humana”.
“Os olhos mais críticos já fizeram a justa observação de que o filme é desprovido de ritmo ou tensão dramática. Ou seja, nele não há um conflito básico [...]. Nem mesmo, o que seria propaganda pura, mas dentro da "gloriosa" tradição de Hollywood, o herói sozinho contra o resto do mundo, o self-made-man típico, que se faz só”.
“[...] Os recursos com que a literatura conta não sobrevivem na cirurgia da montagem. Pior, a escolha nem sempre é a mais sensível, onde cortar, onde avultar, onde crescer. Lula, o personagem, sabemos todos, é maior que o PT, é bem maior que o sindicalismo, porque ele vem com a força da história, como uma encarnação da força que o povo tem. Dos muitos severinos, joões, marias e lindus".
Enquanto escrevia este texto, veio o soco na boca do estômago, as imagens do Haiti. E me peguei pensando nos quantos “lulas” que existem (ou existiam) também lá, na miséria que há séculos domina aquele pequeno país, para o qual o mundo agora volta os olhos, porque a destruição foi tal que é impossível ignorar. E penso na médica Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, morta no terremoto. E volto à dona Lindu. Se tivesse tido acesso aos estudos, quem sabe não seria ela uma colega da Dra. Zilda?
E o pensamento vai fluindo, vagando pelos migrantes que deixam sua terra, pela brutalidade fruto da ignorância, pelas pessoas que, de tanto teimar (como ensina d.Lindu), conseguem alcançar seu objetivo. E de como a arte - no caso, o cinema – pode ter um papel fundamental: além de entreter e informar, ele pode nos lembrar de nossa própria realidade, frequentemente sufocada sob o ruído das buzinas, dos toques do celular, de tantos sons e imagens com que nos bombardeiam diariamente.
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