quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sala Escura: CONSPIRAÇÃO AMERICANA



Velhas novas histórias, ou a História que se repete. Mary Surrat (Robin Wright) é acusada de participar do assassinato do presidente Abraham Lincoln, em 1865, e seus acusadores não medem esforços para condená-la, ainda que as provas sejam insuficientes.

            As acusações se alicerçam na relação do filho de Mary com o assassino, John Wilkes Booth (Toby Kebbell) e dos encontros que mantinham, com o grupo de conspiradores, em sua pensão. Os companheiros de Booth são presos e julgados, com exceção do filho de Mary, que está foragido.

            O jovem advogado, que é também herói da guerra de Secessão, Frederick Aiken (James McAvoy) se vê confrontado com suas convicções. Tem de vencer suas próprias dúvidas quanto a seu papel como cidadão, advogado e ex-combatente e depara-se ainda com suas suspeitas sobre o que efetivamente aconteceu e com a determinação da cliente em proteger o filho.

            O que está em jogo, mais do que a inocência ou não de Surrat, são as relações entre mãe e filho, entre dever perante o Estado e compromisso com a justiça, entre ética e conveniência.

            Nestes tempos em que o presente é eterno e a História é ignorada, o filme de Redford é muito oportuno. Mais do que feridas da História de nossos irmãos americanos do norte, Conspiração traz temas comuns a muitas democracias, como os interesses políticos acima de valores éticos e humanos e os velhos métodos da polícia para achar culpados e apresentar à sociedade, não importa se inocentes. E manter as pessoas assustadas, sob um regime de medo constante. Uma versão mais moderna da Inquisição.

            Um paralelo atual pode ser identificado na situação de presos acusados de terrorismo, detidos na base naval de Guantánamo, que deveriam ser submetidos a júri civil e não militar. O filme contribui também para se pensar sobre o direito irrestrito de defesa, pois com frequência vemos advogados sendo execrados pela opinião pública por defenderem pessoas sabidamente criminosas. Todo acusado, culpado ou não, tem direito à defesa e, em princípio, cabe ao advogado, não enganar o júri, mas garantir que seu cliente seja punido estritamente pelo que fez, e não pelo que não fez.

            O roteiro hábil, direção e atuações impecáveis, música que ajuda a compor o clima do filme, sem nunca se sobrepor às cenas, a câmera do ponto de vista do personagem, equilibrando a narrativa, fazem do filme um programa capaz de agradar a qualquer espectador, e não apenas aqueles fãs de filmes de tribunal.


CONSPIRAÇÃO AMERICANA (The Conspirator)
EUA, 2010 – 122min
Diretor: Robert Redford


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