Não sei bem quando me encantei por Lionel
Messi. Acho que quando soube de sua relação com a avó materna. Eu sequer era
avó na época, mas a história envolvendo o pequeno menino de Rosário, sua abuela
e o futebol me emocionou. Quanto mais conhecia sua trajetória, seu caráter e
seu talento com a bola, mais o admirava. Passei a torcer por ele, tanto no
Barça como na seleção argentina. Estive em Barcelona em 2007, e, claro, visitei
o Camp Nou, mas naquela ocasião era o R10, de quem também sou muito fã, que se
destacava.
Loja do Camp Nou, F.C.Barcelona, 2007 |
Não me recordo também
quando e onde comprei o livro de Leonardo Faccio, edição brasileira, de 2013. Lembrei
dele nesta semana e separei algumas passagens que compartilho aqui.
“O Pulga tinha 11 anos quando saiu pela primeira vez do bairro sem seus pais. Fez isso para visitar o túmulo de sua avó materna, a mulher para quem ele dedica seus gols hoje. Foi em um sábado de primavera. Messi não estava sozinho, um vizinho o acompanhava.”
“A avó foi enterrada
em Vila Gobernador Gálvez, distante cerca de trinta minutos de ônibus ao sul de
Rosário, com uma paisagem de favelas, esgotos a céu aberto e cachorros
perambulando pelas ruas de terra.”
“Dois garotos de 11 anos estavam procurando um cemitério. Messi tinha dado certeza de que saberia chegar, mas, na metade do caminho, eles já estavam perdidos. [...] Antes de visitar o túmulo da avó, não haviam feito nada mais perigoso do que passar por um alambrado para brincar de pistoleiros. Faziam isso no campo de manobras militares que continua sendo parte do bairro. Naquela manhã de primavera, Messi disse a [Diego] Vallejos que não voltaria para casa enquanto não tivesse encontrado o que estava procurando.”
Em julho de 2014, enquanto meu avião aterrissava no aeroporto de Ezeiza, a seleção brasileira iniciava seu calvário frente aos alemães. Por ironia do destino, foi em minha primeira viagem a Buenos Aires que assisti ao 7x1. No hotel, ao ligar a TV, o jogo já lá pela metade, cheguei a pensar que o placar que via na telinha era uma montagem, alguma piada, uma broma dos jornalistas esportivos hermanos. Só que não. Como eu não estava muito ligada na Copa, sobrevivi à inusitada experiência sem problemas.
Estava ainda na capital portenha quando a seleção albiceleste encarou a Holanda na semifinal. Desci para o restaurante do hotel e torci muito com os argentinos pela vitória de Messi e seus companheiros. Dei sorte para os hermanos, me entrosei tanto com eles que chegaram a me pedir para ficar na cidade até o final da Copa. Mas meu roteiro de viagem apontava para a outra margem do Rio da Prata e, dividida entre o desejo de conhecer o Uruguai e a vontade de continuar junto à torcida argentina, embarquei no buquebus. Assim, no dia da grande final com a Alemanha, eu não estava mais em Buenos Aires. No hotel em Pocitos, ouvi espantada a algazarra dos uruguaios (ou seriam brasileiros por lá?). Comemoraram muito a derrota dos vizinhos. Foi triste.
Revista que trouxe da Argentina |
No livro de Faccio, lemos também:
“A lealdade é um ato de fé que, às vezes, não é correspondido. Messi arriscou-se dizendo não à seleção espanhola sem saber se seria convocado pela Argentina. No início de 2002, recebeu o passe internacional do Newell’s Old Boys de Rosário e, nos meses seguintes, jogou em todas as categorias juvenis do Barça, passou para a terceira divisão e, depois, pelo Barça C. “
“Messi queria jogar pela Argentina, mas passaram-se cinco meses desde que a seleção da Espanha se propôs a convocá-lo até que recebesse o convite da federação de futebol de seu país. Era tão desconhecido que os dirigentes do futebol argentino não sabiam como se pronunciava seu nome e sobrenome. Na carta que enviaram ao F.C.Barcelona para pedir a cessão de Messi, referiram-se a ele como "Leonel Mecci”.
A AFA, Associação de Futebol Argentino, havia reagido tarde e também de modo improvisado.
- Na última hora,
armamos uma partida para que Messi estreasse – disse-me Hugo Tocalli, que
naquela época era diretor técnico da seleção juvenil. – Inventamos a partida só
para ele.”
Costumo chamar o Pulga de “meu bebê”. Pretensão pura. Mas, assim penso que me conecto com aquela abuelita que o levava ao futebol e acreditou no sonho e na determinação do menino que tinha problemas de crescimento... e hoje é um gigante.