Este texto me veio à lembrança quando escrevia sobre o
filme Silêncio (Martin Scorsese,
2016) para o Kinoglaz.
Procurando
na web o texto original em inglês (não encontrei), acabei pesquisando um pouco
sobre o autor, de quem nada sabia. Uma biografia muito interessante, inclusive
com um suposto duplo suicídio.
Judeu húngaro radicado na Inglaterra, Arthur Koestler
(1905-1983) foi jornalista e romancista, tendo se filiado ao Partido Comunista
Alemão por um período. Conhecendo um pouquinho de sua história de vida, penso
que talvez este texto reflita sua própria experiência, suas expectativas diante
do socialismo e frustração com os rumos tomados pelo regime soviético, sob o
stalinismo.
Ideologias à parte, um texto interessante que, por
algum motivo, nunca esqueci, ainda que o tenha trabalhado há quase 15 anos no curso
de Tradutor e Intérpretes de Daniel Brilhante.
Esta é a tradução que fiz na ocasião.
A PERDA DE
UMA CRENÇA
Arthur Koestler
A entrada de uma crença na vida é um
acontecimento aparentemente espontâneo, como uma borboleta eclodindo de seu
casulo. Mas o fenecer da crença é lento e gradual; mesmo após o que parece ser
o último adejar das asas cansadas, há ainda uma débil convulsão. Toda crença
verdadeira mostra esta obstinada recusa em morrer, seja seu objeto uma
religião, uma causa, um amigo ou uma mulher.
O natural horror ao que é vão aplica-se
também à esfera espiritual. Para fugir do vazio ameaçador, o verdadeiro crente
não hesita em negar as evidências de seus sentidos, em desculpar qualquer
decepção, tal como um marido traído dos contos de Boccaccio. E se a ilusão não
pode mais ser preservada em sua integridade original, ele irá adaptar e modificar
sua forma ou tentará salvar pelo menos parte dela.
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