O voo TACA-920 saiu do Galeão na madrugada do dia 22/06, quase
amanhecer. O dia foi clareando lá nas alturas de modo que, ao atravessar a
cordilheira, já estava claro, ainda que estivéssemos voando na direção oposta
ao nascer do sol.
Sempre gostei de mapas, talvez porque, de certo modo, viaje dentro deles. O que tínhamos abaixo de nós era como um mapa, daqueles que usamos na escola (ou usávamos... parece-me que a Geografia, como a História - ou seja, a noção de nosso lugar no mundo e no tempo - não tem sido muito privilegiada no ensino dos últimos tempos). Bem, o mapa se abria lindamente, aqueles relevos mais e menos escuros, amarronzados, cheios de curvas, dobras, picos nevados. Parecia que poderia tocá-los.
Um lago imenso se mostra, exuberante, azul puríssimo. Só pode ser o
Titicaca (ou Titikaka, como nos ensinaram depois). E um rio extenso serpenteia
por entre as montanhas. Urubamba (eu já havia feito a lição de casa). Sentada
no corredor, vejo o casal fotografando pela janela e peço para também tirarem
umas fotos para mim. Brasileiros, simpáticos, emocionados como eu naquele
começo de aventura rumo ao mundo Inca. Coincidentemente nos encontraríamos no
voo de volta, embora tenhamos feitos roteiros distintos.
O aeroporto de Lima não fica em Lima, mas em Callao, cidade vizinha, que
também é um porto marítimo. Mortinha de cansada e sono, consigo achar a
plaquinha com meu nome no meio daquele povaréu. Sigo com o guia, sujeito muito
gentil e simpático, entramos na van e ele começa a me contar a história da
cidade, olhando fixamente nos meus olhos, que eu lutava para manter abertos. Ele
cumprindo sua missão e eu tentando não ser deselegante. Gostaria de ter, neste
momento, outros turistas na van, mas só eu estava nesta primeira etapa.
Enfim, chegar ao Hotel Jose Antonio Miraflores (bairro bacana), tentar mexer o mínimo na mala (no dia seguinte muito cedo teria de voltar ao aeroporto para voar para Cusco), almoçar, um banho de gato (com o frio que fazia, se tomo banho demorado, não sairia mais), e esperar a van pro tour pela capital peruana.
Lima é uma cidade cinza (ou gris, como dizem eles) quase todo o ano. Só clareia lá pra setembro. Construída sobre um deserto, não tem bueiros porque nunca chove, mas estava caindo uma garoinha só pra contrariar. Dois avisos me fizeram esquecer por um tempo o temor principal (mal da altitude): um deles, pela orla, indica rota de fuga em caso de tsunami. Outro, presente em todos os prédios, afixado sob as vigas das construções, indica “lugar seguro em caso de sismos”. Que eu não precise me preocupar com nenhum dos dois. Amén.
Lima tem seu Parque Guell. O Parque do Amor, inspirado no de Barcelona,
obra de Gaudí, é bem bonito. Ali pude ver, do alto da falésia, o Pacífico, pela
primeira vez. Aquele pedaço de orla me lembrou um pouco Montevidéu e me deu uma
saudade enorme do Uruguai.
Durante boa parte do percurso do tour vê-se uma espécie de barreira de
terra, bem alta, ao lado de uma avenida. Estranha, feia mesmo. A explicação
veio depois e, junto, o interesse. Trata-se do sítio arqueológico Huaca Pucllana,
de época anterior aos Incas. À medida que foram desbastando aqueles monturos,
descobriram uma espécie de pirâmide, possivelmente usada para sacrifícios em
seu topo, já que ali encontraram ossadas. Há uma grande área preservada que se
pode visitar, mas não nos detivemos ali. Se um dia voltar a Lima, aquele local
é um que gostaria de conferir de perto. Tirei fotos de dentro do ônibus, mas as
perdi misteriosamente. Esta aqui achei na internet.
City Tour que se preza passa pelos prédios monumentais da cidade, palácios de
Governo, praças, igrejas. A Catedral de Lima surpreende por ser feita em
madeira, com bambu, por causa dos terremotos que já a destruíram algumas vezes.
Impossível adivinhar isso, olhando para suas sólidas colunas. Um recorte numa
das paredes revela como foram construídas. Essas colunas são ocas e têm um
acesso na parte superior, para manutenção.
Alma cigana que tenho, me encantou especialmente o Convento de Santo
Domingo, com seus azulejos da Andaluzia, pátios internos, jardins, sacadas em
arco. Abriga uma biblioteca com exemplares raros e os túmulos de dois santos venerados no Peru: Santa Rosa de Lima (a primeira santa das Américas) e San
Martin de Porres. Interessante como é clara a diferença entre a colonização
portuguesa e a espanhola, expressa na arquitetura. História viva, palpável, com
suas glórias e tragédias.
Os ônibus que vi circulando me fizeram achar os do Rio verdadeiras
limousines. A maioria é tipo microônibus, com o teto muito baixo, sempre muito
sujos (não chove, não lavam), entupidos de gente. Fiquei constrangida em
fotografar as pessoas espremidas ali. Me compadeci delas.
Na volta, fui procurar um café (tão comuns em Buenos Aires, em Lima não achei tão fácil), garantir mais uns Soles (100 USD = 326 Soles), voltar pro hotel, uma comidinha leve por ali mesmo e me preparar para mais uma madrugada de movimento. Ainda bem que eles liberam o desayuno a partir das 4h.
2 comentários:
Adorei!!!!! Pode continuar.
Não perca o próximo capítulo, não sei o dia nem a hora...hehehe.
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