SÓ WOODY ALLEN SALVA
Fui assistir
a Paris-Manhattan com o maior entusiasmo. Com uma personagem que adora cinema
e, mais ainda, o cinema de Woody Allen, só podia ser uma história muito
interessante. E é. O problema é o modo como esta interessante história é
contada: uma estrada cheia de buracos. Sacode pra cá, sacode pra lá, e a gente
não tem um ritmo que garanta uma satisfatória fruição do filme. Temos apenas
pedaços.
Os momentos
fofos, simpáticos devem-se especialmente ao ótimo Patrick Bruel, como Victor,
um especialista em segurança e potencial amor de Alice (Alice Taglioni) e ao
pai da moça (Michel Aumont), em seu afã para conseguir um marido para a filha. A
farmacêutica Alice não pensa em se casar, mas tem um relacionamento, que nunca
fica muito claro, o sujeito aparece e some sem dizer a que veio. Para uma fã
dos filmes de Allen, há uma boa dose de contradição nessa moça que parece não acreditar
nas relações amorosas. Na verdade, a personagem não é bem construída, por mais
que deva nos aparecer como alguém descomplicado: uma menina mimada, que não
quer crescer, como tantas por aí
Há ótimas
situações que são mal aproveitadas, como as “prescrições” de filmes do diretor
norte-americano para os clientes de sua farmácia. Falta à atriz – ou à direção
– mais expressividade. E, sobre a relação de Alice com o pôster de Allen,
agarrado à parede de seu quarto, temos um parâmetro bem apropriado no filme À procura de Eric, de Ken Loach (no
filme de Loach, o objeto de adoração do fracassado Eric é seu xará, o jogador de futebol Eric Cantona, ídolo do
Manchester United,, nos anos 1990). Tudo bem, ser Ken Loach não é para qualquer
um e Sophie Lellouche é uma estreante em longas (não há na rede muitas
informações sobre sua biografia).
Bem, antes
que me joguem ovos podres virtuais – algumas amigas amaram o filme – devo dizer
que ele até vale a pena, exatamente pelos momentos em que consegue passar
alguma graça e frescor. As sequências finais, por exemplo, são um respiro no
marasmo de quase a totalidade da película. E tem Woody Allen, a pitada
salvadora. Sem ele, talvez Sophie Lellouche continuasse a ser uma ilustre
desconhecida entre nós.
Uma palavra
que anotei no meu bloquinho, no escuro da sala de cinema (garranchos a serem
decifrados depois), foi “vacilante”. Lendo a crítica de Susana Schild, na
revista RioShow, de O Globo, vejo que ela usa o mesmo adjetivo. Ele, a meu ver,
define bem o filme de Lellouche. Vacila, não engrena. Cai bem numa sessão da
tarde sonolenta, embalando, entre uma espiada e outra à TV, um cochilo no sofá.
PARIS-MANHATTAN (Paris-Manhattan)
Direção e
roteiro: Sophie Lellouche
França, 2012,
77 min
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