A sequência
inicial mostra a lombada do livro “The Words” sobre uma mesa, acompanhando em seguida o autor Clay Hammond
(Dennis Quaid) rumo a uma cerimônia em sua homenagem, onde faz a leitura de
trechos do livro.
Somos então
transportados para a história de outro escritor. O livro de Hammond, sucesso de
público e crítica, narra a história do jovem escritor Rory Jansen (Bradley
Cooper) que, após amargar muitas recusas de editoras, encontra seu lugar ao sol
(leia-se, a lista dos mais vendidos) ao publicar, como seu, o romance “The
window tears”. Hesitando entre honestidade e ambição, Jansen apresenta ao
editor um romance de “sua” autoria, cujos originais, na verdade, havia
encontrado numa velha pasta, comprada num antiquário em Paris e que já
pertencera ao verdadeiro autor (Jeremy Irons).
Muitas vezes
vimos o filme dentro do filme. Aqui temos o livro dentro do livro. Interessante
a proposta dos realizadores, mas os diretores/roteiristas Brian Klugman e Lee
Sternthal não tiveram total habilidade para conduzir sua história por um caminho
naturalmente cheio de armadilhas. O excesso de narrativas vai gradativamente
esvaziando a tensão latente na história do escritor Rory Jansen, sem dúvida,
fascinante. Falta aquela pulsação que mantém o interesse do espectador com as frequentes idas e vindas do roteiro e sem dar maior densidade aos
personagens.
Afinal, que
história estamos acompanhando? “The window tears” (o livro achado na bolsa do
antiquário) ou “The words”? Seria Jansen o próprio Hammond?
Além da
questão da autoria, tema de muita discussão e estudos atualmente, há outras questões
mais sutis. Quem está mentindo para quem? Dora (Zoe Saldana) acreditou ou quis acreditar que Jansen era o autor
do livro? Existem histórias novas ou todas são repetidas? Qual a fronteira
entre literatura e a vida? O autor corre o risco de se perder ao cruzar estas
fronteiras?
Algumas
citações que permeiam o filme plantam curiosidade, geram reflexões. O que
pensar de um escritor que diz que “as palavras estragam tudo”? Concordamos ou não
com o velho e anônimo autor quando diz a Rory Jansen que, ao roubar suas
palavras, assumia também a dor que existe por detrás delas? Talvez outra
citação - Artistas, criadores, levantam questões, mas não têm respostas – seja uma
resposta possível.
Olhando da perspectiva de
literatura e consumo, somos levados a pensar sobre os caminhos que levam à
fama e à respeitabilidade e o que move o mercado editorial. Nesses tempos de
vários tons de cinza, uma reflexão oportuna.
Destaque para
Jeremy Irons, transitando com competência da dor, à ironia, à raiva, à indiferença,
à amargura.
Para concluir,
acrescento aqui um trecho bíblico que, por mero acaso, cruzou meu caminho estes
dias: “A língua também é um fogo; como mundo de
iniqüidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o
corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno.” (Tiago 3:6).
Pelo que se vê em “As palavras”, a língua escrita pode levar tanto ao céu como ao inferno.
Pelo que se vê em “As palavras”, a língua escrita pode levar tanto ao céu como ao inferno.
AS PALAVRAS (The Words)
Direção e
roteiro: Brian Klugman e Lee Sternthal
(EUA, 2012,
102 min)
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