domingo, 7 de dezembro de 2008

RIO DE PAZ, POSSÍVEL AINDA? (3)


Direitos Humanos
O advogado João Tancredo também fez uma retrospectiva, trágica. Lembrou as mães de Acari, as chacinas que se sucederam. Referindo-se a sua passagem pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, disse que “direitos humanos não se pratica de cócoras” e que “a pior coisa é alinhar a instituição com partidos políticos”.

Ele também trouxe números e constatações: 29% dos moradores do complexo do Alemão vivem abaixo da linha de pobreza; em 2007 o Hospital Getúlio Vargas registrou aumento de 45,6% em seus atendimentos; a rua Furquim Mendes deixou de ser rua para virar favela; AR-15 e M-16 não têm origem desconhecida, são fabricados pela Colt, empresa norte-americana; o Estado sonega os dados, a 27ª DP, no Alemão, não é informatizada. Denuncia que a corrida para ganhar as eleições é que determina as ações dos políticos e não a necessidade de políticas públicas. Ele alerta que, ainda que comecemos hoje a reverter este quadro sombrio, já são três gerações aniquiladas.

João Tancredo sempre esteve presente, combativo e destemido, nos momentos dramáticos vividos por nossa população. Mas sua atuação certamente desagradou a poderes constituídos e ele foi exonerado do cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, em 2007. A maioria dos membros da Comissão apresentou renúncia coletiva, na ocasião.
Segurança e fé
Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese de Recife e mestre em Ciência Política. Ele chama de nossos “delitos de estimação” a violência, a corrupção e a injustiça social e diz que o fatalismo tem de ser combatido. E aponta que numa sociedade cujo modelo é a acumulação de bens, a violência é o atalho para se atingir os objetivos. Ele afirmou que a melhor contribuição que uma comunidade religiosa pode dar é ser isso mesmo – uma comunidade de fé, e que já testemunhou grandes transformações em presídios e outros espaços onde há violência.

Ele faz um paralelo entre a galinha e a pata: enquanto a primeira faz alarde ao pôr um ovo, a segunda fica quietinha. Ele propõe que os cristãos comecem a “cacarejar”, para que todos saibam que mudanças são possíveis, embora os ensinamentos digam que se deve esconder o bem praticado. Mas sem dúvida é sensato o que o bispo sugere, já que, longe de significar vaidade, poderia estimular mais ações junto a pessoas marginalizadas. Ele enfatiza que o diferencial dos militantes religiosos é que, além do cuidado, levam afetividade e cita a Assembléia de Deus, de Belém, primeiro grupo a chegar ao Timor Leste para dar assistência.

Participaram também do fórum, mas não assisti a suas palestras: Ana Paula Miranda (IUPOL e IPP), Vinicius George (Sindicato dos Delegados de Polícia); Jorge Antonio Barros (jornalista, mantém o blog http://www.reporterdecrime.blogger.com.br/) e Antonio Carlos Carballo (sociólogo e tenente-coronel da PM). Veja também http://www.abi.org.br/.

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