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| A Sumaúma na identidade visual da Cúpula do BRICS 2025 no Brasil |
Um ano após a Cúpula do G20,
realizada no Rio de Janeiro em novembro de 2024, o País receberá outro grande
evento internacional: a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
(COP30), que acontecerá em Belém.
Entre um encontro e outro, a Cúpula do BRICS, sob a presidência do Brasil, traz
para o Rio de Janeiro, nos dias 6 e 7 de julho, líderes e representantes dos
países que integram o chamado Sul Global. Na pauta de discussões, entre outros
temas de grande relevância, como a produção de vacinas e adoção de uma moeda exclusiva
para as transações comerciais, estão as ações necessárias face as mudanças
climáticas e seu financiamento.
Tal como no G20, uma série de eventos
paralelos, promovidos por órgãos do Governo ou por instituições da sociedade
civil, antecederam a abertura formal da Cúpula. No sábado (5/7), lideranças
empresariais, autoridades governamentais e especialistas dos países membros do
bloco se reuniram no Fórum Empresarial, onde foram discutidos temas ligados ao desenvolvimento econômico
sustentável, com destaque para estratégias de comércio e segurança alimentar,
transição energética, descarbonização, desenvolvimento de habilidades e
economia digital, além de financiamento e inclusão financeira.
A relevância do bloco BRICS no
enfrentamento às mudanças climáticas já é consenso entre gestores, analistas
econômicos e do meio ambiente. Atualmente, o PIB do BRICS
é superior à média mundial e representa 40% da economia global, concentrando
ainda cerca de 40% da população do planeta. No dia 28/5, vice-ministros
participantes da Reunião de Alto Nível sobre Mudança do Clima e
Desenvolvimento Sustentável do BRICS
aprovaram um documento sobre financiamento climático propondo metas e caminhos
para mobilizar US$ 1,3 trilhão até 2035. Esta cifra foi definida ao final da
última COP, realizada na cidade de Baku, no Azerbaijão. As diretrizes estabelecidas
no encontro deverão nortear ações conjuntas entre os países do Sul Global e
servir de base para os debates da COP30.
Tatiana Rosito, secretária de Assuntos
Internacionais do Ministério da Fazenda, enfatizou a importância do documento assinado
em conjunto, uma vez que ele orienta uma ação comum e coletiva do BRICS na área
de financiamento climático. Rosito, que atuou como Coordenadora da Trilha de
Finanças durante o G20, naquela ocasião declarou ser fundamental identificar os
obstáculos à ampliação dos recursos e definir estratégias para lidar com estes
entraves, destacando que é preciso “facilitar a mobilização de recursos
privados e o melhor compartilhamento de riscos”.

Outro evento que antecedeu a abertura
oficial da Cúpula foi realizado no dia 23/5, promovido pelo BRICS
Policy Center (BPC) e pelo Instituto Igarapé, sob o título “Os
BRICS e a COP30 – Dilemas e Oportunidades para o Financiamento para o Clima e
Natureza”. Segundo os organizadores,
o webinar “reforçou o papel estratégico dos BRICS no enfrentamento da
crise climática e evidenciou a relevância da COP30 como oportunidade histórica
para promover uma nova agenda de justiça climática e ambiental, com base na
cooperação internacional e no fortalecimento das vozes do Sul Global.”Um dos expositores, Daniel Nogueira
Leitão, Coordenador de Meio Ambiente e Energia da Presidência Brasileira do
BRICS (Ministério das Relações Exteriores/Itamaraty), destacou a importância de
se discutir desafios e oportunidades no ano em que o Brasil sedia a Cúpula do
BRICS. Nogueira Leitão citou a orientação do Presidente Lula sobre o lema que
deverá guiar a referida Cúpula: “Fortalecendo a cooperação do Sul Global por
uma governança inclusiva e sustentável.” A preocupação em manter um diálogo
construtivo, que leve em conta a heterogeneidade dos países do bloco, fortalecendo
os caminhos da diplomacia, se faz ainda mais necessária considerando o momento
em que o encontro acontece, de tensão e conflitos envolvendo, inclusive, países
membros.
O diplomata informou também que o Grupo
de Contato de Mudança do Clima, o encontro anual onde organizações não
governamentais, movimentos sociais, governos, comunidade científica, setor
privado se reúnem para formular propostas para a implementação da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira, trabalha em quatro frentes: BRICS
Finance for climate change (Financiamento do BRICS para as mudanças
climáticas), voltado para o financiamento, com o lema “De Baku a Belém”,
reportando-se à COP29 realizada no Azerbaijão. Outra frente aborda o uso de
patentes/propriedade intelectual e difusão tecnológica, com o propósito de
diminuir custos para os países emergentes. Na terceira frente o objetivo é
atingir uma convergência entre os países do bloco a fim de promover
metodologias e normas de contabilidade de carbono de forma mais equilibrada e
justa. Reconhecer o mercado de carbono como instrumento essencial à adoção de medidas
focadas no clima é a quarta frente.
O bloco tem na sua origem o
fortalecimento e expansão de relações econômicas entre os países, de olho numa
nova ordem mundial. Composto inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul, agrega hoje mais seis países membros: Arábia Saudita, Egito,
Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. Conta ainda com sete
países parceiros: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia,
Uganda, Uzbequistão, Vietnã. O bloco tem uma instituição financeira, o Novo Banco de Desenvolvimento, ou NDB (New Development Bank), também chamado
Banco do BRICS, fundado em 2014 com o objetivo de impulsionar o crescimento
econômico e o desenvolvimento sustentável entre os países do Sul Global e que está
sob a presidência, desde 2023, da ex-presidenta Dilma Rousseff.
A vertente ambiental ganhou relevância
dentro do bloco sem que isto signifique um desvio de seu propósito inicial, ao
contrário, reafirma a certeza de que as atividades humanas não podem ignorar os
impactos que causam na saúde do planeta. Walter Desiderá, do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada-Ipea,
em sua apresentação durante o citado encontro realizado em 23/5, destacou que a
proteção ao meio ambiente não está no rol dos empecilhos ao desenvolvimento.
“Programas sociais não atrapalham a Agenda 2030”,
afirmou Desiderá.
A 17ª Cúpula do BRICS recebe um reforço importante com a presença do Secretário-Geral
das Nações Unidas, António
Guterres. Conforme informado por seu porta-voz, Guterres foi convidado para participar
de uma sessão sobre o fortalecimento do multilateralismo, assuntos econômicos,
financeiros e inteligência artificial, no domingo. No segundo dia do encontro,
o Secretário-Geral abordará em seu discurso temas ligados ao meio ambiente.
Nota: Se brick em inglês pode ser
traduzido por tijolinho (como aqueles amarelos que pavimentam a estrada do
filme O Mágico de Oz), vale uma brincadeira com a sigla do Bloco, que bem pode ser o subtítulo
para a matéria: Como o BRICS pode pavimentar o percurso entre a
COP-29 e a COP-30.
Fontes:
- Lula:
“Vamos seguir construindo um mundo justo e um planeta sustentável” — Planalto
- Ações
e planos brasileiros para a COP 30 são validados pela ONU — Agência Gov
- BRICS+: é possível uma nova Saúde Global | Outras
Palavras
- 250528_BRICS_Climate-Leadership-Agenda_Joint-Declaration.pdf
- Os
BRICS e COP 30: dilemas e oportunidades para clima e natureza
- BPC: Ambição Climática dos BRICS: Brasil - brq
- Ipea: BRICS, seus desafios e a presidência rotativa do
Brasil 2025 | Revista Tempo do Mundo
- USP: BRICS+: Uma Aliança Crucial para a Sustentabilidade e
a Batalha Contra as Mudanças Climáticas. – Grupo de Estudos sobre os BRICS
(GEBRICS)
- BRICS: BRICS propõe nova geopolítica do clima com foco em
financiamento e inclusão e justiça social
- G1: Brics vai tentar levar à COP 30 posição única sobre
financiamento climático, diz negociador-chefe do Brasil | Política | G1
- Brasil247: "BRICS é ator incontornável no enfrentamento à
mudança do clima", diz Lula | Brasil 247
- Cúpula dos Brics e Fórum Empresarial acontecem neste
final de semana no Brasil; veja as agendas – Money Times
- Agenda
2030 para o Desenvolvimento Sustentável | As Nações Unidas no Brasil
- Guterres
participará de Cúpula do Brics no Rio de Janeiro | ONU News