sábado, 17 de agosto de 2024

DE DESERTOS E DEGELOS

 

Sicília, Itália

A Sicília, além de suas belezas naturais e gastronomia celebradas pelo mundo, ganhou espaço também nas telas do cinema, especialmente em filmes sobre a Máfia. Quem não conhece Don Corleone, o Godfather, personagem inesquecível da obra prima de Francis Ford Copolla? Pois a bela Sicília aparece agora nas páginas e telas da mídia europeia com notícias nada animadoras: a ilha italiana pode ver um terço de seu território transformado em deserto, até 2030 (matéria da Euronews aqui).

Não são apenas os sicilianos que correm o risco de ver sua terra natal murchar. Várias regiões no planeta vêm sofrendo com secas cada vez mais frequentes e duradouras, trazendo a ameaça da desertificação. Não por acaso a ONU incluiu em seu calendário um dia para alertar a sociedade sobre este perigo. A data escolhida foi 17 de junho e, desde 1995, o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca  é lembrado pela Organização.

O ano de 2023 foi de recordes de calor e 2024 segue no mesmo ritmo. A situação é tão crítica que o Secretário Geral da  ONU fez, no final de julho, um chamado à ação para combater “epidemia de calor extremo”. António Guterres destacou as centenas de mortes provocadas pelo calor, os prejuízos para a economia, a necessidade de proteção aos trabalhadores, reforçando a urgência de os governos criarem planos de ação para o enfrentamento da crise climática em suas várias feições.

Se olharmos para a COP 28, realizada em Dubai no final de 2023, por exemplo, constatamos que Guterres não exagera em sua preocupação. Considera-se que a reunião produziu um acordo histórico ao explicitar a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis, mas não foram estabelecidas ações claras para a efetiva implementação desta transição.

BRASIL

No Brasil temos visto nas últimas semanas o encolhimento dos rios na Amazônia, afetando 6 milhões de pessoas, conforme matéria da Revista Forum. Movimentos sociais encaminharam ao Governo Federal um documento enumerando medidas a serem tomadas com urgência.

O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) identificou, apenas na Região Sudeste, 122 municípios suscetíveis à desertificação, especialmente no norte de Minas Gerais. Segundo dados do Centro, a região apresentou 253 municípios com condição de seca extrema e 673 com condição severa. A agricultura familiar, fundamental para o abastecimento interno e pela preservação ambiental, é um dos setores mais prejudicados pelas secas, destaca o Cemaden.

Cordilheira dos Andes

E o degelo? Nosso vizinho Peru assiste as geleiras da cordilheira dos Andes derreterem mais e mais a cada dia. O risco de acidentes limita o turismo e as tradições dos povos originários se vêm ameaçadas já que os locais sagrados vão se modificando. Não apenas a quantidade, mas a qualidade da água também é afetada, já que se torna mais ácida.

Um estudo da Universidade de Engenharia e Tecnologia do Peru prevê que até 2050, a cordilheira central dos Andes poderá perder entre 84 a 98 por cento dos seus glaciares (veja matéria aqui). Os resultados do estudo foram publicados em maio no Journal of Water and Climate Change.

Levantamento do MapBiomas Peru também traz conclusões preocupantes. Mapeando as mudanças no uso da terra nos últimos 38 anos, constatou-se a perda de 4,1 milhões de hectares de vegetação natural, incluindo ecossistemas de florestas, arbustos, pastagens, pastos e manguezais. A expansão desordenada das atividades humanas, como agricultura, mineração, aquicultura e infraestrutura, com o decorrente avanço do desmatamento, estão na origem do derretimento das geleiras.

Foto Sicilia: Si aggrava la siccità in Sicilia, acqua razionata per oltre 1 milione di siciliani (tempostretto.it)

Foto Andes: O derretimento das geleiras na Cordilheira dos Andes e a falta d’água (conexaoplaneta.com.br)