Teoricamente,
a viagem terminaria no dia 20/09, mas, de fato, este 19/09 é o último em
Moscou. A saída do hotel teria de ser na madrugada, já que o aeroporto
Domodedovo (Домодедово) fica a 50 km da capital e o voo com destino a Lisboa
estava marcado para as 7:20h da manhã.
Começamos
este dia de despedida da Rússia com a visita ao Parque da Vitória (Парк Победы), onde fica o Museu da Vitória (Музей Победы).
Para algumas pessoas que estavam no grupo, apenas mais um lugar turístico para
fazer selfies, com caras e bocas (momento
vergonha alheia). Para mim, e outros mais, um local que pede respeito e
reflexão. E emociona tristemente.
O parque foi inaugurado em 1995, celebrando os 50 anos do fim da Grande Guerra Patriótica, como
os russos se referem à 2ª Guerra Mundial. E é um sítio histórico. No local onde o Parque
foi erguido, acredita-se, Napoleão esperou que os russos lhe entregassem a chave
da cidade de Moscou, ou seja, que se rendessem. Era o ano de 1812 (veja o que
contam os historiadores aqui).
Caía uma chuvinha fina quando chegamos. É um espaço
que, como de costume na Rússia, impressiona pela grandiosidade. Além do Museu
propriamente, são vários símbolos que lembram a guerra e os combatentes, como o
fogo perene, as coroas de flores, colunas, inscrições, monumentos,
destacando-se o que retrata São Jorge decepando a cabeça de um dragão, o
nazismo.
O Parque tem uma mesquita, uma sinagoga e uma igreja
ortodoxa. Esta, dedicada a São Jorge (santo venerado no país), estava incluída
em nosso roteiro. Descobri depois que Yuri, nome comum na Rússia e inclusive do
fundador de Moscou, é uma forma diminutiva do grego Georgios, que corresponde
ao nosso “Jorge”.
Fomos então
para o Museu onde, já na entrada, passamos pelo Hall da Tristeza, onde 26 mil
lágrimas de cristal simbolizam os 26 milhões de soviéticos mortos na guerra. Sim,
26 milhões. Passamos por vários bustos e quadros retratando oficiais e o líder
da URSS na época, Stalin (Сталин).
Hall da Tristeza |
Seguimos por
salas onde painéis e dioramas (apresentação tridimensional) retratam de forma
muito realista etapas da guerra, como o cerco a Leningrado (hoje São Petersburgo)
e a agonia de seus habitantes, condenados a morrer de fome e frio, e a terrível
batalha de Stalingrado (hoje Volgogrado). Um realismo que impressiona fortemente.
Às lágrimas de cristal, juntei algumas que me escaparam.
Stalingrado / Volgogrado |
Leningrado/São Petersburgo bombardeada, com a cúpula da igreja de Santo Isaac ao fundo |
Exército Vermelho na Praça Vermelha, com a Catedral de São Basílio ao fundo |
Com base em
fotos da época, foram reconstruídos ambientes de batalha, muros com inscrições
feitas pelos soldados durante o assalto a Berlim e a tomada do Reichstag. Vemos
ali nomes de combatentes, como Serguei (Сергей), Nicolai (Николай), e de
cidades, como Kiev (Киев) e Berlim (Берлин), além do grito de vitória “hurra”
(ура). E a data 10.5.45.
Soldado do Exército Vermelho finca bandeira da URSS no topo do Reichstag. Berlim, maio de 1945 foto de Yevgeny Khaldei (reprodução na internet) |
Subimos depois a
escadaria que leva ao Hall da Fama, onde encontramos mais homenagens às vítimas
da guerra, como a imensa estátua de um soldado e os nomes de heróis, militares
ou civis, gravados nas paredes. Ali assistimos a uma projeção na cúpula reconstituindo
batalhas, bombardeios.
Na saída, passamos pelo
monumento em homenagem aos judeus vítimas do holocausto nazista. Tudo o que vemos
neste impressionante Museu nos dá claramente a dimensão do que foi, e é, a 2ª.
Guerra Mundial - a Guerra Patriótica – para o povo russo. Está acima de
qualquer corrente política, crença religiosa ou ideologia.
Monumento aos judeus mortos pelos nazistas |
Bem, depois
de experimentar sensações que deixam o coração da gente mais sensível e
apertado – experiência tão necessária quanto é viver as alegrias –, seguimos para
uma etapa mais amena: conhecer algumas estações do famoso metrô de Moscou. Para não estender muito esta postagem, vou deixar este tour pelas
estações, e outros momentos deste dia de despedida, para a próxima e última
crônica.
Foto de Yevgeny Khaldei - Soldado soviético no topo do Reichstag: https://theartsdesk.com/visual-arts/red-star-over-russia-tate-modern-review-%E2%80%93-fascinating-history-nutshell