3º dia: A Casa
Fernando Pessoa abre às segundas,
então não esperei mais para visitar meu amado poeta. Consultando o mapa de
Lisboa, tomei o metrô rumo à Estação Rato
(sim, em Lisboa há uma estação com este nome) e, perguntando um pouco aqui e ali, cheguei lá sem problemas, depois de uma
caminhada de uns 20 minutos. O sol muito quente e as subidas dificultaram um
pouco, mas Pessoa merece todos os sacrifícios.
Coincidência: a hora no mostrador é a data de meu aniversário |
Ladeiras, ladeiras... |
A casa fica num
recanto super agradável, no Campo de Ourique. E sem o turbilhão de turistas. O
que prejudica o sossego e a vista é a profusão de automóveis, cada vez mais
donos das cidades. Enquanto escrevo, penso no arquiteto/urbanista dinamarquês Jan Gehl e
na sua proposta de Cidades para Pessoas. E - surpresas da escrita! - cá está Pessoa.
Rua Coelho da Rocha, Casa de Pessoa à direita |
Em frente à Casa de Pessoa, o Desassossego |
Bela fachada em frente à Casa |
Fernando António
Nogueira Pessoa morou nesse endereço nos últimos 15 anos de vida e para quem se
espanta, se sensibiliza e se identifica com o poeta há quase 50 anos é uma
imensa emoção estar no seu ambiente, ainda que seja um espaço reconstruído.
Mas
são muitas as peças originais, inclusive o acervo da biblioteca de Pessoa.
Não fiz muitas
fotos, creio que por uma certa reverência àquele espaço, sagrado para os amantes
do poeta. As salas não são muito espaçosas e alguns objetos estão em vitrines,
o que também dificulta a vida de fotógrafos amadores como eu. Curiosamente,
para um personagem importante e reconhecido como Pessoa, o site da Casa é bem modesto
e, se “navegar é preciso”, nele a navegação não é das melhores. Talvez um upgrade esteja nos planos da EGEAC,
empresa pública que administra o espaço desde 2015.
Detalhe da escada. A Casa tem 4 pisos e sub-solo |
Mas não pude deixar
de fotografar o quarto de dormir, onde descobri que a cômoda, original, sobre a
qual o poeta muitas vezes escreveu, é da madeira do vinhático (Plathymenia foliolosa). Na tão distante daqui
Rio das Flores, uma árvore dessas é meu encanto e minha companheira.
Cômoda (ou cómoda) original de Pessoa sobre a qual escrevia |
Vinhático em Rio das Flores-RJ, Brasil |
Um jovem visitante estrangeiro e também solitário fez a gentileza de me fotografar junto ao poeta. A foto ficou ruim, mas vale o registro do encontro e a doce ilusão de caminhar de mãos dadas com ele.
Descobri que a Casa
abriga um restaurante, o Flagrante
Delitro (que nome ótimo!), mas não o conheci. Mais um item para colocar na
agenda de uma futura viagem a Lisboa. Ao sair, me chama a atenção, gravado no mármore do piso, o mapa astral
do poeta, geminiano como eu (apenas dois dias separam nossos aniversários). Ele
era também um estudioso, e praticante, de Astrologia.
Pessoa nasceu em 13/06/1888, em Lisboa |
No caminho de volta
para o Rato, dei uma conferida rápida no Jardim da Estrela, que encontrei por
acaso. Próximo a ele fica a basílica de
mesmo nome, do século XVIII e onde está o túmulo de D.Maria I (aquela chamada de “A Louca”, mãe de D.João VI, e que morreu no Brasil). Não
cheguei a visitá-la, pois tinha outra etapa da expedição a cumprir ainda naquela
tarde: conhecer o famoso Oceanário.
Jardim da Estrela |
O acesso de metrô ao
Oceanário é pela Estação Oriente, a do Parque das Nações. A
sinalização não é das melhores (para variar) e tive de empreender uma longa caminhada
(quase correndo, pois o horário da última entrada estava próximo) para chegar à
casa dos peixes, pinguins, crustáceos, cetáceos e afins.
Rampa de acesso |
O aquário faz jus à
fama. É imenso, um dos maiores do mundo. Tive pouco mais de uma hora para ver a
exposição temporária “Florestas Submersas” (uma experiência sensorial, com música e espaços para meditar e
relaxar) e percorrer as inúmeras alamedas/salas.
Exposição temporária "Florestas Submersas" |
Dando as boas vindas
estão os pinguins, convivendo com outras aves.
Susto! |
Reprodução de ecossistemas onde vivem as espécies |
O encanto das meninas |
Vasco é a mascote do
Oceanário, que tem uma programação lúdica e educativa para as crianças.
Não, não é São Januário |
Vasco mergulhando numa boa |
Gostaria de ter me
demorado mais, porém os seguranças já nos tocavam para a saída. Mas ainda deu
tempo de apreciar essas fofuras peludas e brincalhonas.
Dia acabando e,
pelas frestas da rampa de acesso do Oceanário, meio sem jeito, deu para clicar a bela vista do teleférico contra o pôr do sol.
E esta lua se
mostrava, maravilhosa, no rosa do fim de tarde, acima da estação do Teleférico.
Fiz um lanche no
Centro Vasco da Gama e embarquei de novo no metrô. Voltei ao hotel, dando aquela
paradinha no mercadinho para reabastecer o frigobar do quarto.
Amanhã, procurar um
adaptador de tomada (esqueci o meu em algum dos vários hotéis por onde passei)
e cumprir mais uma etapa do roteiro lisboeta.
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