4º dia: Seguindo
a indicação da recepcionista do hotel, fui procurar o tal adaptador de tomada no
El Corte
Inglés, loja bacana, que fica
mais ou menos perto do Fenix Urban. O
preço (quase 20 euros) me desanimou, ainda que fosse uma peça tipo mil e uma
utilidades, que serve para qualquer tomada no planeta e talvez fora dele (eu já
tinha comprado um em Lima, por 19 dólares, como contei numa das crônicas peruanas).
Decidi apostar na
dica da simpática moça do restaurante do hotel e fui à cata de uma loja de
chineses (sempre eles!) perto da estação Saldanha. Achei que, ao sair da
estação, daria de cara com uma daquelas lojas típicas de quinquilharias. Mas,
que nada! A região tem avenidas largas, muitas ruas transversais e lojas.
Perguntei aqui e ali, mas ninguém sabia e quando consegui uma indicação, me
apontaram uma loja com roupas na vitrine. Já sentindo a frustração nos meus
calcanhares, resolvi conferir e encontrei enfim o que procurava: um adaptador (que
eles chamam de ficha) básico, mas
suficiente para minhas necessidades, por módicos 95 centavos de Euro. Não me
deixou na mão durante o resto da viagem.
Como a fome já batia
à porta do estômago e o sol estava, como sempre, quente, resolvi almoçar antes
de prosseguir no meu roteiro. Meio desconfiada dos preços nos restaurantes da
área, me deparo com uma placa: picanha, arroz e feijão. Não tanto pela picanha,
mas a dupla feijão-com-arroz me seduziu. Era o restaurante O Visconde, onde, por onze euros, almocei
uma comidinha decente, tomei suco e comi sobremesa, servida com boa vontade e
simpatia (itens que nem sempre encontramos, tanto aqui como lá).
Revigorada e bendizendo
o metrô que tudo facilita, rumei para a estação Santa Apolónia, a última da
linha azul, para chegar ao Museu Nacional do Azulejo. Pela indicação do site, ali poderia pegar um ônibus
(autocarro) até o Museu. Perguntar me salvou muitas vezes, mas desta vez não
foi uma boa opção. Um motorista de outra linha que encontrei logo à saída do
metrô me disse que poderia ir a pé, cortando caminho por uma ponte. Boa
intenção ele teve, mas a tal ponte, que eu só visualizei bem depois, era um
viaduto que subi cozinhando sob um sol escaldante, ônibus e carros passando ao
lado. E ainda andei um bom pedaço até chegar ao destino. Mas cheguei! O bonito
jardim da entrada renovou meu ânimo!
O Museu continua
fantástico, um acervo de encher os olhos e a imaginação. É uma visita
obrigatória para quem vai a Lisboa e admira esta arte, que se confunde com a
identidade de Portugal há cinco séculos. Tanto o edifício que o abriga como as
peças são belíssimas. Flanei pelos corredores sem me preocupar em fazer muitas
fotos, pois já tinha várias da viagem anterior.
Frontal de altar com brasão de armas das Carmelitas Descalças - 1650-1675 |
Verónica - Lisboa 1730-1750 |
Fuga para o Egito - Lisboa, 1730 |
Painel de azulejo com Cordeiro Pascal - 1630-1671 |
Telhas de beiral - 1860-1890 |
Azulejos holandeses com cercadura portuguesa - 1700 |
Pode-se visitar
também uma capela, ricamente adornada em ouro, e passar pelas lápides de nobres
e religiosas.
Pareceu-me que o
Museu está em fase de restauração, já que o jardim interno estava sem flores e
quase sem verde - apesar de estarmos no verão - e havia muitas caixas e outros objetos
amontoados nos corredores externos.
Assim estava o jardim interno no inverno de 2007 |
O Museu abriga
também obras de azulejaria mais modernas e ainda um extenso painel de azulejos
retratando Lisboa de antes do terremoto de 1755, que destruiu quase toda a cidade.
Fernando Pessoa por Júlio Pomar para a Estação Alto dos Moinhos, Lisboa (1926) |
A ceifa - Lisboa, 1920 |
Lisbonne aux mille couleurs - Paolo Ferreira, 1937 |
Escolada pela
cansativa ida, voltei no ônibus 794 que, conforme indica o site do museu, passa
bem pertinho. Embarcaram comigo duas brasileiras que moram na Califórnia. Estavam
apreensivas pelo furacão Norma que
andava por lá. Uma delas fez a gentileza de me clicar no portão do Museu. Um
dos problemas de viajar sozinha é encontrar alguém que reúna boa vontade e
alguma noção para tirar fotos básicas. Às vezes damos sorte.
Um dia cansativo,
mas também bem proveitoso. Programa para amanhã: almoçar com o amigo Artur
Malheiro e explorar a Baixa-Chiado.
5º dia: Marquei
com o amigo Artur na bela estação de comboios do Rossio, “aquela em estilo
manoelino” observou ele, superestimando meus conhecimentos da arquitetura
lusitana quinhentista. Bem, eu tinha uma ideia do que seria e da localização, e
não foi difícil encontrá-la. Na verdade a estação não é tão antiga, foi
inaugurada em 1890, seguindo o estilo neomanoelino. E é mesmo imponente a
estação D. Sebastião, ainda que a estátua do jovem rei, desaparecido há 439
anos numa batalha, ainda não tenha voltado a seu nicho na fachada (veja matéria
aqui).
Almoçamos um
bacalhau numa tasca bem típica, escondidinha numa viela ali perto, enquanto
botávamos as conversas em dia. Meu gentil amigo levou-me para conhecer alguns
segredinhos da cidade, ladeiras acima e abaixo e pude também relembrar os
recantos que conhecera na viagem de 2007. Estivemos no mirante, ou Miradouro
de São Pedro de Alcântara (a visita ficou prejudicada, pois havia obras no
local) e em outro nos fundos do Museu do Carmo. Uma das descobertas foi a Manteigaria, onde se come um delicioso
pastel de nata – disputadíssimo pelas hordas de turistas – por apenas 1 euro. Vale
a pena o aperto no espremidinho espaço da loja. E ainda descobri um cinema na
calçada em frente.
Miradouro São Pedro de Alcantara |
Museu Arqueológico do Carmo visto do Mirante junto ao elevador |
Pude enfim
reencontrar Pessoa, sentado à porta do café À
Brasileira, sempre cercado de gente querendo uma foto com ele. O bronze da
estátua ardia ao sol e eu mal pude tocar o poeta. Enfim uma foto minha bacana,
tirada pelo gentil Artur, com o capricho que o momento pedia.
Descemos por
ladeiras e vielas até a bela Rua Augusta, cruzamos o pórtico majestoso que dá
acesso ao Terreiro do Paço. É um espaço que impressiona, com bonitas arcadas e uma
vista magnífica do Tejo.
O amigo, agora mais
português que brasileiro, teve de ir-se. Despedimo-nos sem que tivéssemos
tirado uma foto juntos. Grave pecado. Eu continuei por ali, explorando as
redondezas. Como, além de comer pastel de nata, por vezes a gente tem também
necessidade de fazer xixi, fui procurar o banheiro que o Artur me disse ter por
ali, todo modernoso. E é mesmo, a começar pelo colorido do papel higiênico. É quase um lounge. “O WC
mais sexy do mundo”, está no TripAdvisor.
Custa 1 euro.
Como o dia de ir
embora se aproximava, fui à cata de uma casa de câmbio para reforçar o caixa em
euros. Tinha notas de reais, que provavelmente teria dificuldade em trocar nos
países para onde ia. Achei uma casa, meio escondidinha, perto do Teatro
D.Maria, e troquei meus 800 reais por 193,60 euros. A taxa não foi das
melhores, mas bem mais favorável do que a oferecida no hotel. Amanhã vou visitar
Saramago e o que mais o calor, meus pés e meus euros permitirem.
Mais sobre a Estação do Rossio e D. Sebastião: https://www.vortexmag.net/misterios-de-lisboa-os-enigmas-escondidos-na-estatua-de-d-sebastiao-no-rossio/