Aconteceu
no Rio, neste mês de julho, um seminário chamado Cidades
e Comunidades Sustentáveis. Foram três dias de palestras, exposição de dados
numéricos, fotos, apresentações em power-point.
Debates, ideias, fatos e opiniões. Doutores, gestores públicos, técnicos,
ativistas, organizações do terceiro setor. Esforços reunidos para debater o
tema sustentabilidade.
Discutiram-se
os ODS. Mais uma sigla, em meio a tantas. ODS na verdade não “é”. São os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável. São metas definidas como prioritárias para
a preservação do planeta e das vidas que o habitam. Esses objetivos foram lançados
em setembro de 2015, na Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Sustentável, na sede da ONU.
O
seminário aconteceu na sede da Associação Comercial, casa do empresariado.
Sendo o assunto desenvolvimento, o local tinha tudo a ver. Repensar o conceito
de desenvolvimento, redefinir o que é crescimento, progresso, avanço econômico
é uma etapa indispensável se realmente se quer chegar a um modelo que mereça o
título de sustentável. Aliás, se desejamos chegar a algum lugar.
Detalhes
do que aconteceu em cada dia do evento podem ser acessados neste link. Foram
muitas informações e reflexões interessantes. Dados alarmantes, mas, para
aliviar um pouco a alma, foram citados vários programas que estão acontecendo
pelo mundo, inclusive aqui, para salvar, ou pelo menos tentar, o planeta.
Uma
das mesas era sobre Cidades Resilientes,
essa capacidade de resistir, de dobrar, mas não quebrar. Muitas siglas apareceram, como CDP (Carbon
Disposal Project), UCRA (Urban Community Resilience
Assessment), WRI (World Resources Institute). Entre
elas, UCCRN, ou Urban
Climate Change Research Network, nome bacana para uma rede que tem uma
missão difícil, mas possível, se houver colaboração e persistência: reunir e
analisar dados sobre as mudanças climáticas, numa perspectiva urbana, e
compartilhá-las com a sociedade, as empresas. Seu braço na América Latina está
apoiado na FIOCRUZ e na COPPE-UFRJ.
Essas
siglas apontam, cada uma com suas estratégias, seus cálculos, estatísticas,
para algo simples: a cidade para pessoas. Algo óbvio, mas quase sempre ignorado
quando se lida com aglomerações humanas urbanas do planeta. O arquiteto Ian Gehl fala
em escala humana ao se pensar as cidades. Ou seja, priorizar as pessoas que vão
habitá-la, percorrer suas ruas, socializar nos espaços comuns.
Do
mesmo modo, o enfrentamento de problemas que afligem a sociedade do século 21 –
e que deveriam já estar superados há tempos – está frequentemente melhor
ancorado numa escala menor em termos de agentes, gestores, atores. Sejam
pequenos grupos de moradores, líderes comunitários, ou ONGs, que, por exemplo, transformam
um terreno baldio em horta comunitária e/ou área de lazer. Combatem assim insalubridade,
doenças, sentimentos negativos e produzem alimentos, alegria e solidariedade.
Na escala governamental, o foco de ação e
responsabilidade cabe melhor na municipalidade, nos governos locais, daí expandindo-se
para o estado, o país. Se cada um cuida de seu quintal, toda a rua, todo o
bairro fica melhor. A esfera municipal com sua máquina administrativa pode
fazer muito mais por seus contribuintes, por estar mais próxima. Deve ser
acessível, claro. Agora, por exemplo, está sendo montado o Plano Estratégico do
Rio de Janeiro, que vem sendo acompanhado pela Casa Fluminense e do qual a
sociedade pode e deve participar.
Os
“antepassados” dos ODS remontam à Rio-92,
a Cúpula da Terra, conferência mundial que movimentou o Rio de Janeiro num
tempo em que esta cidade era mais gentil e acolhedora do que nestes sombrios
últimos anos. Já se admitia então que o caminho para uma vida segura, saudável,
digna para todos que habitam o planeta passava necessariamente pelo uso
responsável dos recursos naturais e pela proteção ao meio ambiente.
Estabelecia-se o conceito de desenvolvimento sustentável, apresentado na Agenda
21.
Chegamos
ao século 21 e parece que cada passo dado no sentido daquele ideal é
neutralizado por outro (ou mais) dado atrás ou em outra direção. Está aí o presidente
da potência do Norte que não me deixa mentir. E o mesmo telejornal em que se
fala da inacreditável fome de milhões de pessoas no mundo, inclusive no Brasil,
mostra as milhares de toneladas de alimentos - tantas que já não se tem mais
onde armazenar - estocadas, esperando preço, decisões econômicas e políticas.
Siglas...
que me lembram uma genial (e bela) música de Sergio Ricardo, Conversação de Paz. Que
ODS não seja apenas mais uma, um mero instrumento de estratégia política para os
donos do mundo, os que comandam o “Esporte Clube das Nações”.