O crescimento desordenado das metrópoles – e o que vem
a reboque, como poluição, engarrafamentos, estresse, violência, remoções – vem
expondo, cada vez mais, a necessidade de reflexão e aprofundamento das discussões
sobre o modo como o espaço urbano é ocupado.
O 5º Encontro com a Sociedade, promovido
pelo CAU-Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, no sábado 24/09,
deve, assim, ser saudado como uma iniciativa muito bem vinda por aproximar profissionais
e a sociedade civil, por permitir o diálogo entre a posição de gestores
públicos e a experiência cotidiana de quem vive a cidade onde os problemas são
mais agudos. O encontro fez parte da II Conferência Estadual da classe.
Sob a coordenação dos dirigentes do CAU, as mesas de
abertura e debates reuniram representantes de diversas instituições e
movimentos como a Pastoral das Favelas, o Observatório das Metrópoles, a Empresa Olímpica Municipal, o coletivo de moradores Rocinha sem Fronteiras, entre outros.
A urgência de uma cidade mais justa, que não mais
reproduza modelos de exclusão, deu o tom do encontro. O presidente do CAU,
Jerônimo de Moraes Neto, e Pedro da Luz, Presidente do IAB - Instituto dos
Arquitetos do Brasil, enfatizaram a necessidade de
governantes e técnicos ouvirem a sociedade e da elaboração de projetos
completos, com foco numa cidade inclusiva. Edvaldo Souza Cabral, Presidente do SARJ-Sindicato
dos Arquitetos no Estado do Rio de Janeiro, reforçou a prioridade do planejamento cuidadoso e da participação da
coletividade, o que leva a custos menores e garante mais acertos na realização
de obras públicas.
“As Olimpíadas acabaram, e agora?” Esta pergunta
orientou a mesa sobre o legado das obras na cidade e a nova agenda urbana. O
Coordenador Executivo da Casa Fluminense, Henrique Silveira, que foi o mediador, ressaltou a prioridade de se
pensar a cidade como Região Metropolitana, um universo de 12 milhões de
habitantes. As desigualdades existentes na cidade do Rio, destacou ele, se
acirram na Zona Oeste e na Baixada Fluminense. A descentralização dos
investimentos com geração de empregos, bem como a despoluição da Baía de
Guanabara, também foram citadas por Henrique Silveira durante o debate.
Marcelo Neri, economista, Diretor do FGV Social, disse que o índice de desigualdade no Rio de Janeiro é maior do que o
índice do país como um todo e que esta disparidade aumentou nas últimas
décadas. E observou que os ganhos com os Jogos Olímpicos têm efeitos
passageiros, ou seja, não são garantia de avanços estruturais, de longo prazo.
O arquiteto e urbanista Luiz Carlos Toledo, que chefiou a equipe de
urbanização da Rocinha entre 2005 e 2007, relatou como montaram um escritório
dentro da favela e viveram o cotidiano de quem mora ali. Numa dinâmica de
troca, Toledo impulsionou a capacitação profissional de jovens locais, que
atuavam junto com estagiários qualificados da UFRJ. O processo de urbanização,
dentro do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deveria ter ido adiante,
mas não foi concluído até hoje, lamentou o arquiteto. Obras de saneamento
básico, por exemplo, prioridade indiscutível, são ainda hoje uma reivindicação
dos moradores que questionam a aplicação dos investimentos na construção de um
teleférico.
As cidades fascinam e atemorizam os homens há tempos,
como nos contos de Ítalo Calvino. Ainda no século XIX o sociólogo alemão Georg Simmel escrevia sobre a complexidade da vida urbana e as relações
dos indivíduos com a dinâmica nervosa (imagina hoje!) das cidades. Jerônimo de
Moraes Neto (CAU) lembrou que a cidade é uma das maiores invenções do homem,
pois é o espaço onde se encontram.
A ideia de cidade que abriga “espaços de encontro”,
que aproxima e não segrega as pessoas, como propôs Jane Jacobs, ou a de “Cidades para
pessoas”, de Ian Gehl, vêm como um sopro
de vitalidade e renovação que pode se materializar com ações bem planejadas,
com projetos urbanísticos atentos à realidade social e com a participação da
coletividade.
Detalhes sobre o que foi discutido nas mesas do 5º
Encontro podem ser conferidos no site do IAB: http://www.iabrj.org.br/ii-conferencia-e-5%c2%ba-encontro-promovem-debate-sobre-habitacao-social-e-legado-das-olimpiadas
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