Barriguinha cheia, deixamos o Tunupa e voltamos à estrada. O que veio a
seguir me surpreendeu e encantou: o sítio arqueológico de Ollamtaytambo. Sabia
que estava no roteiro, mas, com o pensamento voltado para Machu Picchu, não
tinha pesquisado sobre esse povoado onde se ergue uma imponente construção
pré-colombiana. O templo de Ollamtaytambo foi usado como fortaleza durante a
resistência ao colonizador e é a única cidade originária do Império Inca ainda habitada pelos seus descendentes.
Quando a guia – Maria, uma cusqueña pequetita e adorável – propôs que
subíssemos aquela escadaria, achei que não daria conta. Mas... como desperdiçar
uma oportunidade como esta? Reuni toda a coragem, mais o orgulho nacional
verde-amarelo-rubro-negro, e lá fui eu.
O chão pedregoso exige muita atenção. Apenas umas cordinhas delimitam a
trilha. Não há grades para proteção e evitar quedas. Seria mesmo uma agressão
estética colocar grades num local como aquele. Então, subir com cuidado,
parando para tomar fôlego e admirar a paisagem.
Ali também a engenhosidade inca
se mostra, na precisão do encaixe dos blocos de pedra e quanto à incidência dos
raios de sol, como nesta abertura por onde jorra água.
Valeu cada segundo de esforço, tanto pela vista, pela emoção de estar
num lugar carregado de história, como pela superação do medo de cair daquela altura
(além do esforço pela altitude) e de ter um piripaque. Agradecer à Pachamama o
privilégio de estar ali, tocando aquelas rochas seculares.
Cumprida a missão, orgulhosa,
fiz pose para o pau de selfie da Irma, com nossos companheiros chilenos ao
fundo.
Há uma feirinha aos pés da fortaleza, onde não pudemos nos deter por muito tempo,
pois tínhamos de prosseguir até Yucay. Por um momento me perdi da guia, quase
entrei em pânico. Logo ia escurecer e me vi sozinha no meio daquelas montanhas.
Mas a pequenina grande Maria logo me resgatou naquela profusão de cores e
sotaques.
De volta à estrada, rumamos para o Hotel Posadas Del Inca, em Yucay. Na
beira da estrada, os nativos exibem os pobres cuys
espetados na ponta de uma vara, convidando os turistas para uma refeição.
Passamos por este belo monumento, que marca o Museo Inkariy. Não o
visitamos, mas vale a pena dar uma olhada nesse link que achei na internet: https://www.youtube.com/watch?v=E9cSuX86acs
O Hotel Sonesta Posadas del Inca, em Yucay, é um capítulo à parte. Instalado num
antigo mosteiro, é um oásis na aridez do deserto. Grandes espaços, jardins
exuberantes. Lamentei ter chegado ao final do dia e ter de sair na manhã
seguinte, cedinho. Senti-me em Sevilha, cidade onde estive em 2007 e que meu coração cigano gostaria de revisitar.
Além da Irma, a mexicana do pau de selfie, conversei bastante com o simpático
casal chileno, muito interessado nas coisas do Brasil, super gentis. Trocamos
informações, ideias e, maravilha!, demos boas risadas. Fiquei muito prosa porque
todos elogiavam meu espanhol. Acho que foi o efeito do pisco e da magia daquele
lugar...
Da janela do meu quarto |
A noite gelada termina com uma boa conversa com a funcionária da
cafeteria do hotel (uma fofa), sopinha pra aquecer, música peruana na recepção
do Hotel e um céu estrelado. Ver o Cruzeiro do Sul no coração dos Andes inspira
e aquece a alma desta viajante que desde menina está sempre mirando o céu em
busca de respostas (e às vezes só encontra perguntas).
Pezinhos aquecidos, descansar. Amanhã, Machu Picchu.