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Receita “mágica” que poderia colocar nossa educação num patamar bem
melhor do que o 60º lugar no ranking da OCDE. Mesmo que se argumente
que os critérios da organização se guiam também por uma visão mercantilizada do
ensino, diante de nossos analfabetos funcionais, do parco capital cultural da
juventude, do contingente de candidatos a uma faculdade que zeram na
redação do Enem, temos que admitir que estamos mesmo mal na fita. A avaliação
do PISA (Programa Internacional de
Avaliação de Alunos) também não é animadora.
E as causas vão bem além dos muros da escola, tal como o educar-se vai
muito além do instruir-se. Políticas públicas eficientes, de longo prazo, abrangendo
as várias instâncias da vida dos indivíduos, como moradia digna, emprego, transporte,
acesso a serviços básicos, a um cardápio cultural diversificado, poderiam mudar
a rota perigosa em que nos encontramos.
Completando nosso mapa, resgato um texto de Elio Gaspari, publicado em
sua coluna no jornal
O Globo, sobre as meninas de Santa Leopoldina, trigêmeas filhas de agricultores
capixabas. Longe das metrópoles, numa casa sem acesso a internet, Fábia,
Fabiele e Fabíola ganharam os primeiros lugares na 10ª Olimpíada de Matemática e
deveriam vir ao Rio de Janeiro para receber, no Theatro Municipal, suas
medalhas. Como não tinham o dinheiro para a viagem, moradores da localidade
instituíram um pedágio para possibilitar a vinda das meninas.
A história das adolescentes de 15 anos é comovente, inspiradora. Seu
sucesso passa pelo apoio de professores e da família, inclusive da irmã mais
velha, Flavia, a primeira jovem da região a cursar uma faculdade. Hoje, aliás,
faz doutorado na Universidade Federal do Espírito Santo. Como bem destaca
Gaspari, “As trigêmeas de Santa Leopoldina são um produto da força de vontade
de cada uma, do estímulo dos pais, do sistema público de ensino, de políticas
bem-sucedidas e de uma professora que estimula seus alunos, Andréia Biasutti.”
Sugiro ler também o texto de Gaspari sobre os larápios de Santa Leopoldina que, diante das trigêmeas, se tornam ainda mais criminosos e desprezíveis. Provavelmente, todos a favor da redução da maioridade penal.
Fontes:
http://www.skilledup.com/articles/ivory-tower-movie-review-higher-education-failing
2 comentários:
Não vi o filme, mas percebo que é sempre difícil "não mascarar as mazelas nem demonizar o regime da ilha" tentando equilibrar-se entre os impulsos da indignação e o entusiasmo da admiração. Admiração por exemplo, pelo esforço individual das três irmãs de Santa Leopoldina que contra todas as estatísticas, surgem brilhantes como resultados de suas próprias potencialidades humanas.
E indignação diante das ineficiências de um Governo opulento em propagandas e ausente na prestação de bons serviços à população. Abraço fraterno do Gaulia.
Olá, Gaulia. Recomendo ver o filme, acho que ainda está em cartaz por aí. É um filme sobre crianças, professores, limitações, perseverança, coragem, medos... sem bandeiras ideológicas.
Sobre nossos políticos, muito mais me inquietam os prefeitos (e seu séquito) dos mais de 5 mil municípios espalhados por esse Brasil (como Santa Leopoldina)do que aqueles que estão todo dia na mídia.
Grande abraço.
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