Vai ter Copa, não vai ter Copa. Vai ter tiro, porrada e bomba. Vai ter
festa. Pegação. Cerveja (muita). Polícia (muita). Alegria e tristeza (muitas).
A Copa está aí, rolando como bola, e é engraçado ver algumas postagens
no FB. Gente que demonizava a Copa meses atrás, hoje não perde um jogo. Isso
não é uma crítica, muito menos um deboche (coisa que não pratico). É apenas uma
constatação, daquelas que a gente faz com um sorrisinho no canto da boca.
Um certo partido político tinha como lema: “sem medo de ser feliz”. Que
assim seja, pelo menos por alguns momentos. Vamos curtir nossas cidades cheias
de gringos e brasileiros de outros estados, vamos viver a vibração que atravessa
o ar poluído de nossas cidades, como uma onda magnética. Isso não é alienação. O
mais lindo das Copas são as gentes, as caras pintadas de muitas cores e as
próprias caras de diferentes cores. É ver estranhos abraçados. É ver respeito
nas derrotas. São os sotaques, os idiomas estrangeiros. Sons que provocam
nossos ouvidos e desafiam nossas línguas.
Que sejamos tolerantes e benevolentes, mas igualmente atentos. Nosso
direito de gritar gol, de cantar hino emocionado, de xingar, de ir aos
estádios, bares, esquinas é legítimo. Como é legítima nossa luta para uma
sociedade onde alegria não seja sinônimo de irresponsabilidade, irreverência
não signifique desleixo, vibração não case com violência, e o conteúdo importe
mais que a forma. Que os valores sejam repensados. E o mercado não seja deus. E
sejamos parâmetro, e não boi na boiada.
Futebol é jogo de equipe (team),
na sua essência carrega valores como solidariedade, respeito. É um espetáculo
de formas, cores e movimentos sobre um gramado, a céu aberto. Um belo cenário.
Mas é belo também em cada campinho improvisado, pelos cantos do mundo, onde crianças
jogam descalças e usam qualquer coisa para servir de bola e de baliza.
O francês Alain Bergala, relatando sua própria experiência, afirma que
para os ”deserdados, distantes da cultura [...] a única chance de existir é
resistir a partir de uma paixão pessoal”. No caso dele, foi o cinema. Quantas
vidas já foram salvas pela arte, pela devoção, pelo esporte, pelo futebol? Futebol
e cinema, para mim, têm tudo a ver. Puro movimento.
Mais do que qualquer outro esporte, o jogo da bola no pé provoca
paixões, tristezas indescritíveis, alegrias que estouram como fogos de
artifício. Enfim, agita no fundo de cada um, emoções e sensações sem as quais
não se pode viver plenamente. Então que não nos falte a bola de couro, o balão,
a gorduchinha, a pelota. Seja nas Copas, Libertadores, nos Brasileirões,
Cariocas, Séries A, B, C.... E que exista não para substituir, mas para somar.