Este ano a
seleção de filmes que assisti ficou bem abaixo da que assisti em 2011. Não sei
se foi falta de sorte na escolha, ou a qualidade está inferior mesmo. Sempre
dou prioridade aos filmes que reflitam a diversidade global e que têm poucas
chances de entrar em cartaz.
Ainda que os
filmes que vi não fossem o que de melhor se pode fazer no cinema, têm seu valor
histórico, sociológico ou antropológico, nos mostrando um retrato,
frequentemente nada louvável, da sociedade em diferentes cantos do planeta e em
diferentes épocas. A intolerância étnica, a degradação humana pelo uso do
álcool, a violência gratuita, a desesperança são marcas presentes em vários
desses filmes.
. Lore é entre eles o
mais identificado com o cinemão, com qualidades estéticas e narrativas, roteiro
bem estruturado, boas atuações. O destaque vai para um olhar pouco comum sobre
a 2ª Guerra e o nazismo, página da História que já mereceu centenas de livros e
filmes. O que sobressai na obra de Cate Shortland é como a guerra, por onde
quer que se olhe, leva o ser humano ao limite da degradação. As fronteiras da
ética, compaixão, justiça, fraternidade, se perdem...
A jovem Lore,
abandonada pelos pais, nazistas que passam a ser caçados ao final da guerra, se
vê com a dura missão de alcançar, com seus irmãos menores, a casa da avó, num
cenário de devastação. Ela se confrontará não apenas com todo tipo de
dificuldade material, mas com a necessidade de rever suas convicções, herança
da rígida educação alemã e, especialmente, simpatizante do Führer.
O que me
incomodou no filme foi que muitas vezes a fotografia se sobrepõe à história
narrada, um excesso que mais do que encantar, cansa o espectador (por exemplo, repetidamente
imagens de pés, caminhando e caminhando).
.Apenas o Vento
vem do leste europeu, com a história de ciganos perseguidos e assassinados na
Hungria. Ao contrário do extermínio de judeus e da diáspora africana, e mesmo
da matança de índios nas Américas, a questão dos ciganos não tem praticamente
visibilidade na mídia, na literatura, nas artes.
O mérito do
filme de Benedek Fliegauf é, sem dúvida, a denúncia. Com cores fortes, sem
poupar o espectador, soa como um grito contra a injustiça que mantém sem
punição os assassinos de ciganos.
Contudo, acredito
que teria mais impacto se o autor optasse por um curta ou média, já que não há
propriamente um roteiro e falta conteúdo para justificar os quase 90 minutos de
projeção. Creio que a intenção tenha sido gerar um clima claustrofóbico, com situações
repetitivas e o uso excessivo de closes, mas, a meu ver, este excesso acaba banalizando
o que deveria ser impactante.
O diretor
explica, na abertura, que não se trata de um documentário, embora adote um
formato documental. Possivelmente teria sido um formato melhor para contar a
história de famílias de ciganos assassinadas, mas (não tenho esta informação) é
possível que tenha havido dificuldade em encontrar quem quisesse dar
depoimentos para um filme de não ficção, daí o recurso de usar atores.
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