Em março fiz a defesa de
minha dissertação de Mestrado em Comunicação Social, com o título Novas telas, novos olhares: audiovisual e
inclusão subjetiva na Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu. A proposta era
pesquisar como o acesso a bens e atividades culturais, especialmente os
mediados pelo cinema/audiovisual, pode contribuir para o autoconhecimento, a
relação com o outro, a construção de subjetividade, atuando ainda para reverter
processos de exclusão, promover cidadania e o consequente posicionamento
crítico do indivíduo na sociedade. O trabalho incluiu uma pesquisa de campo na Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu,
na Baixada Fluminense.
Dois meses antes, havia
publicado aqui um texto com o título de O cinema rompendo grades,
sobre a experiência do Preciso (Programa Exibição de Cinema Social)
numa unidade prisional da grande Recife, o CREED
(Centro de Reducação da Polícia Militar).
Naquela ocasião, os responsáveis pelo projeto buscavam autorização e apoio para
realizar o Carnaval no Cárcere, uma
mostra de curtas metragens que percorreria os presídios do Estado durante os
dias de Carnaval. A autorização não foi concedida e a mostra não aconteceu.
Mas o pessoal não
desanimou, tanto que este ano duas mostras acontecerão, organizadas pelo Preciso: a mostra competitiva I Cine Santa Clara e o IV CineCreed. A primeira conta com o
apoio da empresa de águas minerais Santa
Clara e a segunda é mais uma edição da mostra que o CREED realiza anualmente. Ambas receberam inúmeras inscrições de
realizadores de todo o país.
Em julho, arrumei as
malas para uma curta viagem de lazer e pesquisa. Após uns dias de descanso em
Porto de Galinhas, o roteiro apontou para Recife e Abreu e Lima, onde se
localiza do CREED, distante cerca de
40min da capital pernambucana. Fui conhecer de perto aquele projeto corajoso e
mesmo ousado, como gosta de definir seu idealizador, o Capitão Francisco Pires.
Além do Capitão, fui recebida com extrema simpatia pelo diretor daquela
unidade, o Major Chicó, e por todos que encontrei por lá.
Convidada a falar para os
reeducandos sobre cinema e sua capacidade de mobilizar corações e mentes, me vi
diante de uma plateia composta por cerca de 60 homens, de idades e perfis
variados, e igualmente com diferente interesse e informação acerca do assunto. Uma
experiência nova, e como tudo que é desconhecido, gerando em mim ansiedade, curiosidade
e um tanto de insegurança.
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Mostraram-se também ansiosos por saber o que podemos trocar com eles e como podemos divulgar as atividades que vêm desenvolvendo naquele pequeno universo, cercado por muros, mas aberto ao conhecimento.
Algumas perguntas e
comentários que fizeram foram bastante interessantes, como: “O cinema brasileiro tem muita violência e
sexo, deveria mostrar nossas coisas boas.” Ou “Deveríamos só fazer filmes baseados em fatos reais, como Carandiru.” E
“Que diretores a senhora considera
importantes?”.
Depois desta experiência
gratificante, fui “intimada” a voltar para o IV Cinecreed, que acontecerá em novembro. Saí de lá emocionada,
feliz por compartilhar um pouco do que tenho estudado e, principalmente, por
sentir novos e promissores ares soprando em lugares sempre identificados com
repressão, violência, limitações de toda espécie. São novas telas, a céu
aberto, escoradas em muros; são novos olhares, prontos para receber, processar
e devolver à sociedade as indagações, os sentimentos, as reflexões que o
cinema, há mais de cem anos, vem provocando.
Foto 1: Preparativos para
o I CineCreed (site do Preciso)
Foto 2 (a partir da
esquerda): Carlos Junior, Puccini, Capitão Pires, Teobaldo e Douglas.
Um comentário:
Parabéns, Teresa, inovando e renovando corações e mentes!
Abs
GAULIA
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