Tentando dar uma sacudida no blog, depois de longas semanas sem conseguir acessá-lo, vai aqui um texto poético escrito num longínquo 1977, quando nem sabia que existiam expressões como "pós-modernidade" e afins.
Andando pelas ruas nesse século XXI, com alguns (muitos) anos a mais na bagagem, me parece que não evoluimos (ou até involuimos).
MODERNA IDADE
Nos sinais das ruas
Paramos e nos olhamos,
Desconfiados e agressivos,
Não trocamos sorrisos,
Não nos dizemos “bom dia”,
Nossa boca se fecha num NÃO.
Nos bares e nas esquinas,
Apressados nos esbarramos,
Não nos desculpamos,
Não cedemos a vez,
Não nos dizemos “bom dia”,
Nossa boca repete o NÃO.
Nos elevadores frios,
Silenciamos vazios
De palavras e plenos
De pensamentos e medo
De ver transposto o muro
Que esconde do mundo
Nossa verdade.
Não nos olhamos nos olhos,
Nossa boca se cala num NÃO.
Assim é você e sou eu
Frutos prematuros de um novo tempo
Que sufoca e devora
Sua própria criação.
Nossa boca confessa nossa omissão
Pois só sabe dizer e calar
Na forma do NÃO.
FOTO: Tirada em Valença-RJ em abril 2008 ("Hoje estou em pedaços / tijolo, pedra e chão / o rumor dos seus passos / espantou solidão")
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