A juventude de homens já passados dos 70, se escapa à aparência, está lá, na sua capacidade de manter acesa a chama que faz a vida ser algo que palpita e estremece - ainda que de medo, insegurança e dor – e não uma paisagem estática. “Acordar com vontade de vida”, diz a certa altura um dos personagens.
São três amigos que se reúnem para mergulhar – sem amargura – em suas histórias, seu passado, retomando o espírito de uma montagem teatral da qual participaram, há 50 anos, ainda adolescentes: A ceia dos cardeais (do autor português Julio Dantas). No balanço de suas vidas, avaliam os amores vividos e sonhados, a busca dos ideais (“melhor é ter ideais, nem que seja para perdê-los e procurar outros”), refletem sobre a diferença entre desejo e vontade e compartilham as asperezas do presente. É ficção habilmente mesclada com realidade.
Com fino humor – o que não é novidade na obra de Domingos Oliveira -, os três homens-meninos se expõem até o osso, revelando sua fragilidade e sua grandeza. Realizado no esquema BOAA (Baixo Orçamento e Alto Astral), as limitações técnicas do longa são largamente compensadas pelas atuações sinceras – destaque para o diretor teatral Aderbal Freire-Filho em seu primeiro trabalho como ator – e alguns momentos de grande beleza estética. Diálogos e silêncios são adornados por poéticas imagens do céu, nuvens que passam, um emocionante nascer do sol.
Juventude faz bem à alma e devia ser “tomado” a intervalos regulares durante a travessia que todos nós desejamos fazer: da juventude de corpo à juventude do espírito.
JUVENTUDE, de Domingos Oliveira
Com: Domingos Oliveira, Paulo José e Aderbal Freire-Filho
Brasil, 2008 – 1h15 – 14 anos
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