segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Sala Escura: FESTIVAL DO RIO 2012



Este ano a seleção de filmes que assisti ficou bem abaixo da que assisti em 2011. Não sei se foi falta de sorte na escolha, ou a qualidade está inferior mesmo. Sempre dou prioridade aos filmes que reflitam a diversidade global e que têm poucas chances de entrar em cartaz.

Ainda que os filmes que vi não fossem o que de melhor se pode fazer no cinema, têm seu valor histórico, sociológico ou antropológico, nos mostrando um retrato, frequentemente nada louvável, da sociedade em diferentes cantos do planeta e em diferentes épocas. A intolerância étnica, a degradação humana pelo uso do álcool, a violência gratuita, a desesperança são marcas presentes em vários desses filmes.
 
. Lore é entre eles o mais identificado com o cinemão, com qualidades estéticas e narrativas, roteiro bem estruturado, boas atuações. O destaque vai para um olhar pouco comum sobre a 2ª Guerra e o nazismo, página da História que já mereceu centenas de livros e filmes. O que sobressai na obra de Cate Shortland é como a guerra, por onde quer que se olhe, leva o ser humano ao limite da degradação. As fronteiras da ética, compaixão, justiça, fraternidade, se perdem...
A jovem Lore, abandonada pelos pais, nazistas que passam a ser caçados ao final da guerra, se vê com a dura missão de alcançar, com seus irmãos menores, a casa da avó, num cenário de devastação. Ela se confrontará não apenas com todo tipo de dificuldade material, mas com a necessidade de rever suas convicções, herança da rígida educação alemã e, especialmente, simpatizante do Führer.
O que me incomodou no filme foi que muitas vezes a fotografia se sobrepõe à história narrada, um excesso que mais do que encantar, cansa o espectador (por exemplo, repetidamente imagens de pés, caminhando e caminhando).

.Apenas o Vento vem do leste europeu, com a história de ciganos perseguidos e assassinados na Hungria. Ao contrário do extermínio de judeus e da diáspora africana, e mesmo da matança de índios nas Américas, a questão dos ciganos não tem praticamente visibilidade na mídia, na literatura, nas artes.
O mérito do filme de Benedek Fliegauf é, sem dúvida, a denúncia. Com cores fortes, sem poupar o espectador, soa como um grito contra a injustiça que mantém sem punição os assassinos de ciganos.
Contudo, acredito que teria mais impacto se o autor optasse por um curta ou média, já que não há propriamente um roteiro e falta conteúdo para justificar os quase 90 minutos de projeção. Creio que a intenção tenha sido gerar um clima claustrofóbico, com situações repetitivas e o uso excessivo de closes, mas, a meu ver, este excesso acaba banalizando o que deveria ser impactante.
O diretor explica, na abertura, que não se trata de um documentário, embora adote um formato documental. Possivelmente teria sido um formato melhor para contar a história de famílias de ciganos assassinadas, mas (não tenho esta informação) é possível que tenha havido dificuldade em encontrar quem quisesse dar depoimentos para um filme de não ficção, daí o recurso de usar atores.

. Eu também, ainda que sombrio e mostrando um retrato nada animador da Rússia dos anos 2000, tem um toque de fantasia e esperança. Três homens e uma mulher, afogados em álcool, procuram a Torre do Sino capaz de transportá-los para um mundo de felicidade, que, afinal, é o que todos buscam. Mas o preço desta busca pode ser alto, pois a região foi contaminada por um vazamento radioativo.

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