Conhecer o Santuário do Caraça e ver de perto o lobo guará foi por
muito tempo um daqueles sonhos que a gente vai guardando, acarinhando,
acalentando... Durante anos, um desejo distante demais para eu alcançar. Enfim
aconteceu, e deixou uma enorme vontade de repetir a experiência.
Eu já havia pesquisado como ir do Rio a BH e depois para o Caraça, no
município de Catas Altas. Fiz contato por e-mail com o Santuário, juntei informações,
preparei um roteiro, saindo de BH de ônibus (para Santa Bárbara ou Barão de
Cocais) e depois pegando um taxi. Numa das vezes em que tentei reservar, a
pousada estava lotada. Por sorte, surgiu uma excursão exatamente para o Caraça e
que não ia apenas visitar o Santuário, mas pernoitar três noites por lá. Exatamente
o que eu queria!
Saímos do Rio na quarta-feira, 13/02, bem cedinho, rumo a Belo
Horizonte. Um pit stop em BH para
descansar (caía um aguaceiro danado!), com o relógio programado para despertar
bem cedo no dia seguinte. Café da manhã apressado, e embarcamos às 7:30h no
trem da Vale que faz o percurso Vitória-Minas. Creio que é o único (ou um dos
poucos) que ainda funciona no Brasil, para passageiros, cobrindo uma longa
distância.
O vagão executivo é bem confortável, tem até wifi |
No percurso de 1h30min, em meio a paisagens verdes, vemos as imensas
feridas deixadas pela mineração nas montanhas mineiras. Nosso destino era a
estação Dois Irmãos, no município de Barão de Cocais. Poucos dias antes de nossa
viagem, a população desta cidade havia sido alertada pela sirene da mineradora.
Moradores foram deslocados de suas casas. Havia risco de rompimento de uma
barragem. Enquanto escrevo, ouço notícias de que sirenes voltaram a tocar,
assombrando, com o risco de mais tragédias, pessoas que vivem próximas àquela e
a outras áreas de mineração. E estas são muitas, nas Gerais.
Descemos na Estação Dois Irmãos, onde nos esperava nosso ônibus de turismo, e seguimos para o centro de Santa Bárbara, uma daquelas cidadezinhas mineiras típicas,
fundada em 1704 e ligada ao ciclo do ouro. Fizemos um tour, passando pela Casa do Mel, onde há, além de muita simpatia, um pequeno
museu e uma lojinha com artigos artesanais a base de, obviamente, mel.
Uma breve caminhada e chegamos à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos
Negros, da segunda
metade do século XVIII, tão linda na sua simplicidade, no alto de uma ladeira.
Uma pena que estava fechada.
Descendo a ladeira, um colorido jardim enche os
olhos do viajante. Alguns casarões coloniais resistem ao tempo, felizmente. Junto
ao jardim, ergue-se a Igreja Matriz de Santo Antônio, tombada pelo IPHAN. Recém-restaurada, com
seus altares folheados a ouro, impressiona pelos detalhes e pelo trabalho de Mestre Ataíde no teto. Um guia local nos recebeu para contar detalhes da construção,
iniciada por volta de 1713, e da história da cidade.
Igreja Matriz de Santo Antônio |
Belíssimo trabalho de Mestre Ataíde |
Um sorvete para enganar a fome e refrescar, e seguimos viagem para o
Santuário do Caraça. Fincado numa área de 11.233 hectares, dentro de uma RPPN
(Reserva Particular do Patrimônio Natural), a visão da magnífica construção,
numa curva da estrada, é surpreendente.
Na próxima crônica, as belezas do Santuário e o encontro com o lobo guará!