Parque Estadual da Serra do Rola-Moça |
Há três anos
falávamos de Mariana e do Rio Doce, hoje falamos de Brumadinho e do Rio
Paraopeba. E assim vão-se os rios e os dias, correndo... às vezes apenas se
arrastando. Pesadamente.
Umas semanas
após o desastre de Mariana, em novembro de 2015, aconteceu um atentado terrorista
em Paris. Eu, que vivo juntando fatos - e creio firmemente que tudo está
entrelaçado neste nosso mundo -, na época, botei em palavras escritas algumas
reflexões e compartilhei algumas informações recolhidas (que você pode conferir
aqui).
Fazia eu
conexões entre as águas do Rio Doce e o sangue que correu pelo Rio Sena. Entre
o minério que sai das Minas Gerais e as armas produzidas no mundo. Entre os crimes
que acontecem no cotidiano, endossados por governos e empresas, com o carimbo
de “desenvolvimento”, silenciosos (até resultarem em tragédias) e os atentados
surpresa, que explodem em ruídos de bombas, tiros, gritos, sirenes.
Creio que,
tristemente, ainda estão valendo aquelas palavras, aquela consternação, aquele
gosto amargo de revolta e desesperança. Ainda que nos emocionem os atos de
coragem e olhemos com gratidão e afeto as imagens daqueles que se dedicam e se
arriscam pelo outro.
Barcarena-PA |
Emerge
também, neste cenário sombrio, o caso de Barcarena, no Pará. Vazamento de rejeitos
tóxicos atingiu vários pontos do município, há um ano, contaminando rios,
igarapés, ocasionando danos graves à população e ao meio ambiente. A empresa
responsável, a norueguesa Hydro,
atua na região desde 2011, quando “adquiriu atividades de bauxita, alumina e
alumínio da Vale na região nordeste do Pará, tornando-se proprietária da mina
de bauxita em Paragominas, a refinaria de alumina Hydro Alunorte, em Barcarena”
(fonte: site
da Hydro).
A empresa
suspendeu as atividades, mas depois as retomou. Em novembro de 2018, os
moradores denunciavam uma série de problemas de saúde, ao Portal
Amazônia. E cobravam indenizações.
Voltando a
Brumadinho, o município divide com outros três (BH, Nova Lima e Ibirité) os
mais de 4 mil hectares do Parque
Estadual da Serra do Rola-Moça, que, tal como o famoso Instituto Inhotim, atrai
muitos turistas à região.
Por que
lembrar da Serra do Rola-Moça? Foi o poema
de Drummond, que muitos postaram nas redes sociais desde sexta-feira, que me
fez buscar lá no fundo da memória outro poema, de Mário
de Andrade, no qual o poeta nos conta que “a Serra do Rola-Moça não tinha esse
nome não...”.
Poesia é um
punhado de palavras com um certo ritmo, que excedem seu significado, palavras ressignificadas.
Mas é também um jeito de olhar o mundo (há até um “cinema
de poesia”).
O poeta
Caetano, falando da metrópole poluída, descreveu a “feia fumaça que sobe
apagando as estrelas” (Sampa). E ela
continua subindo das chaminés, queimadas, canos de descarga.
E os rios
seguem desaguando sangue. A lama e rejeitos industriais seguem sufocando vidas.
De humanos, de seres da fauna e da flora. Apodrecendo a terra. E enxergar a poesia do mundo vai
ficando cada vez mais difícil. E, por isso, mais necessário.
Foto
manancial:
Foto
Barcarena: http://conexaoplaneta.com.br/blog/vazamento-de-mineradora-contamina-rio-no-para-e-coloca-em-risco-saude-de-moradores-da-regiao/
Prefeitura
de Brumadinho: