Letônia, Lituânia,
Estônia... nomes que aprendi lá pela década de 1960, nas aulas de Geografia/História,
no Visconde de Cairu, no Méier. Repúblicas que faziam parte da misteriosa (e
demonizada) União Soviética, a assustadora URSS! Não poderia imaginar que um
dia estaria pisando em solo estoniano.
Logo após
desembarcarmos em Tallinn, depois da travessia noturna, partimos para o
tradicional tour com nossa guia local, Silvy. No roteiro, muito para se ver na
cidade velha: sedutoras ruas estreitas, casas coloridas, restaurantes, cafés,
construções centenárias.
Detalhe da fachada da Academia de Música |
Placas com nomes de pessoas presas e/ou mortas durante regime soviético |
Passamos por
simpáticas lojinhas que vendem lembrancinhas de viagens variadas e
irresistíveis. Uma das especialidades de Tallinn são as joias com pedras de
âmbar. Vale a pena também comprar algumas barrinhas de Marzipan, segundo os
estonianos, um doce que se originou de um remédio preparado pelos químicos da
Idade Média (têm até um museu temático).
Medieval, mas fitness. |
Fomos à Colina de
Toompea, onde fica a linda Catedral Alexander Nevsky (sem fotos no interior), igreja ortodoxa russa. Visitamos também a Igreja Dome,
luterana, do século XIII, que guarda túmulos e brasões de nobres de origem
germânica. No horário de nossa visita o acesso ao topo, de onde se pode ver a
cidade, não estava aberto.
Catedral Alexander Nevsky |
Igreja luterana Dome |
A vista que se tem
da colina é encantadora. O tempo não estava lá muito bom, tive de apelar para
minha nada discreta capa de chuva comprada em Viseu, Portugal.
A chuvinha deu uma
trégua e pudemos seguir pelas ruas de pedra. Depois de algumas caminhadas,
chegamos à ampla praça da Prefeitura, com vários restaurantes e fervilhando de
turistas.
Na praça fica também a
farmácia mais antiga de que se tem registro (1422) e que ainda funciona.
A Estônia medieval
fatura com o turismo e a do século XXI vem se destacando pelos investimentos em
tecnologia (veja matéria aqui). A
impressão que tive é que estão muito bem preparados para receber turistas. Nas
lojas e restaurantes falam inglês. Ainda bem, pois poucas foram as palavras que
deu para aprender na língua local, que tem origem siberiana.. Além do aitäh
(aitár = obrigado) que a moça do barco me ensinou, juntei a meu dicionário: tere tere (teré, teré = olá), haed ööd (readê = boa noite) e õlut (ôlut = cerveja).
Tallinn foi fundada
em 1219 e significa “cidade dos dinamarqueses”. A população do país é pequena,
cerca de 1 milhão e 300 mil habitantes, sendo que 40% estão na capital. A maioria
é composta de estonianos e russos, mas o país abriga cerca de 140
nacionalidades. Já estiveram sob a dominação de dinamarqueses, suecos, alemães,
russos. Em termos de
tamanho, a área do país equivale à do Espírito Santo, sendo 70% cobertos por
florestas. A educação é gratuita para todos até o 12º ano e os salários são
tributados em 13%.
Após o tour e depois
de me acomodar no hotel Nordic Hotel Forum (um dos que mais gostei de toda a viagem), saí para explorar mais um
pouco a cidade e procurar um local para almoçar. Próximo ao hotel há algumas
construções modernas, integradas a prédios antigos, bem interessantes.
Fome apertando, segui
para a cidade medieval onde optei pelo CRU (que a moça me disse significar algo como “pequeno
jardim interno”), um restaurante com cartaz na porta avisando que o chef está
(ou esteve) no ranking dos melhores do mundo. Mas foi o jeito aconchegante e a
opção de almoço aparentemente não tão estranha – peixe - que me atraiu. A
garçonete é super gentil, detalha o que é o prato com minúcias, nem sempre
captadas por mim. Mas, vamos lá. A sorte está lançada. Que venha o whitefish. Mais bonito que gostoso, o
peixe não era lá essas coisas, mas a sobremesa... um improvável sorvete de pão
de centeio! Dos deuses!
Fui então para a
expedição solo de praxe. Voltei a
alguns lugares que visitamos durante o tour e descobri outros, como um bonito
jardim. Uma garota russa me estende um folheto convidando para um mergulho no
mundo medieval. Uma atração entre instigante e bizarra que, um tanto receosa e
querendo ver mais coisas da cidade, acabei não experimentando: Tallinn Legends. Agora que já pesquisei na internet, acho que, se voltar um dia a
Tallinn, vou conferir os sustos que eles prometem.
Fiz umas comprinhas
– há muitas coisas bem fofas nas lojinhas de suvenires – fucei aqui e ali, entrei
e saí de vielas, e fui ao final tomar aquele café da tarde no Reval Cafe.
Tentei arrebanhar
algum colega de viagem para irmos ao Olde
Hansa – restaurante totalmente ao estilo medieval, inclusive no cardápio
(soube que servem até carne de urso), mas não obtive sucesso na empreitada. Partir
sem ir lá? Nem pensar! À noite voltei ao centro histórico e fui experimentar a
cerveja com mel e a carne de cervo (fiquei com dó, mas era a menor porção do
cardápio. Eu não ia encarar um jantar medieval sozinha).
Não foi a melhor
experiência gastronômica da vida, mas também não foi ruim. Pedi à garçonete
para tirar uma foto minha, mas ela estava meio apressada e a coisa não ficou
nada boa. Paciência... pelo menos a caneca de cerveja, tão pesada que precisei
das duas mãos para segurar, consegui registrar na bruxuleante luz do ambiente. O
banheiro também tem estilo medieval, mas, graças a Odin, tem água corrente.
Pia do banheiro do Olde Hansa. Um charme! |
No caminho de volta
ao hotel, ainda pude admirar a muralha iluminada. Um casal parecia estar
posando para minha foto. Lamentei ficar tão pouco tempo em Tallinn. Queria pelo
menos mais um dia para outras expedições a pé. A lista de lugares
interessantes, como museus, teatros, parques, é grande (veja aqui). Há
até uma prisão da temida KGB. Mas... excursão
é assim. Temos algumas mordomias, mas também limitações. A gente tem de seguir
o roteiro.
Dormi tarde, como
sempre, triste por me despedir de cidade tão encantadora. Na manhã seguinte voltamos
ao porto para nova travessia, desta vez bem mais curta. Destino: Helsinque, Finlândia.