Partida de futebol entre pilotos soviéticos e britânicos, no Ártico (1942). |
Tempos atrás, rata de mostras e festivais de cinema, frequentadora fiel do extinto Cinesul (creio que a última edição foi em 2013), assisti a Meu melhor inimigo, uma co-produção de Chile e Argentina, de 2005, dirigida por Alex Bowen.
Argentinos e chilenos andaram prestes a guerrear nos anos 1970, época de ditaduras sombrias na porção sul das Américas. Na trama, uma patrulha chilena é enviada a uma região fronteiriça, ao sul do país, onde supostamente deveria ficar de prontidão para um possível combate. Como a guerra carrega em si tanto o horror quanto o absurdo, os soldados não identificam onde fica a tal fronteira que devem vigiar e tropeçam num destacamento argentino que está na mesma situação.
Perdidos na imensidão dos pampas, sem apoio e informação, os potenciais combatentes vão pouco a pouco deixando de ser soldados para serem apenas homens. Vivendo uma situação que seria cômica, não fosse a guerra algo trágico, a certa altura, entediados daquele marasmo, dão uma trégua na vigilância e iniciam uma partida de futebol, ou melhor, uma autêntica pelada. É comovente.
Fora da ficção, o futebol já foi o cessar-fogo que calou canhões e fuzis, ainda que por pouco tempo, em diferentes épocas e países (veja matéria aqui). Um exemplo tocante é o da Costa do Marfim, terra de Didier Drogba. Sua história é narrada por Eric Cantona no filme Os Rebeldes do Futebol (que a ratinha de cinema aqui assistiu no genial CINEfoot).
De vez em quando me lembro daquele filme de 2005, mas hoje especialmente, ao ver a foto da Segunda Guerra que abre este texto. Ela está numa matéria da Gazeta Russa sobre uma exposição em homenagem ao centenário do fotojornalista Evguêni Khaldei (1917-1997).
Essa imagem me
comoveu profundamente. Não apenas porque imagens e filmes de guerra sempre me
arrastam àqueles lugares da alma onde vivem tristeza, revolta, desesperança, desejo
de entender, mas pelo que há meses vemos nas telas da TV, particularmente esta
semana. Bombas para combater bombas, ataques para cessar ataques, mortes para
impedir mortes.
Não tenho a
ilusão de que há mocinhos e bandidos, embora sempre haja aquele que, pela
arrogância, desprezo total pelo outro e vaidade extrema, ultrapassa a linha do
aceitável numa guerra (considerando que há algo aceitável numa guerra e mesmo
os conflitos armados têm sua ética). A História tem vários exemplos. E se
repetem.
Há poucos
meses, falava aqui sobre o “contra” que virou “com”
no tristíssimo episódio com a equipe de futebol da Chapecoense. Pode ser uma
utopia, mas seria lindo ver campos de guerra transformados em campos de jogo,
civis mortos em torcida cantando, prédios destruídos em estádios seguros,
jovens despedaçados por bombas em atletas saudáveis, levando a bola com
alegria, elegância e fairplay.
Fontes:
- Fotos de
- Sobre o
filme: Meu melhor inimigo (Mi Mejor Enemigo), de Alex Bowen, Chile/Argentina, 2005. A produção
ganhou vários prêmios, entre eles o de melhor roteiro (Paula del Fierro
Julio Rojas) no Festival de Cartagena de 2006. Ver: http://www.imdb.com/title/tt0410316/
- Blogs:
Julio Rojas) no Festival de Cartagena de 2006. Ver: http://www.imdb.com/title/tt0410316/