Inclinava para trás a
cabeça enquanto pingava na boca os florais de Bach e então pensei que um dia
olharia para um teto outro, sabendo que Ela estaria atrás da porta, pronta para
me levar. A da ceifadeira. Talvez por estar lendo John Green e aquela história
sobre a garota Hazel Grace, o namorado e seu câncer terminal.
Bem, talvez nem
tivesse a chance de olhar outro teto, aquele que sempre aparece nas cenas de
hospital, muito iluminado, passando ligeiro por sobre quem está deitado na maca
(um sujeito baleado ou infartado, levado às pressas, cercado de pessoas de
branco ou verde).
Pode ser que Ela
venha sorrateira, com pezinhos silenciosos, sapatilhas de seda, sem ruído
algum. Ou, ao contrário, batendo os saltos das botas pesadas.
Pode ser que venha rápida
e rasteira, nem deu tempo daquela coisa de hospital e gente apressada vestida
de verde.
Pode ser que bata à
janela, como chuva ou um passarinho, como que dizendo “cheguei enfim, vamos que
a viagem é longa”.
Pode vir montada
numa bala perdida, num trem descarrilado, num ônibus que cai do viaduto, num
avião que desaprende a voar.
Pode vir simplesmente
porque tem de vir mesmo, o corpo já não está dando conta de fazer as milhares
de conexões, transposições, trocas, sínteses e processos químicos que o status ser vivo requer.
Certo mesmo é que virá. E aí, meu parceiro, como diria um certo Capitão (que não é o Rodrigo), não adianta pedir pra sair. Ah, mas eu queria terminar aquele projeto... viajar pro Butão... plantar um pé de caqui... usar aquela roupa novinha, ainda está com a etiqueta... Esquece. Quando Ela vem, não tem Rescue Remedy que dê jeito.
Fotos: Noiva Cadáver (Corpse Bride, 2005)
e O Estranho Mundo de Jack (The
nightmare before Christmas, 1993)
A culpa é das estrelas (The fault in our stars), John Green
A culpa é das estrelas (The fault in our stars), John Green