Não faz muito tempo assisti no Globo Rural uma matéria sobre a exportação de gado bovino para a
África. Não, não se trata de exportar carne bovina. São vacas vivas, em pé,
como se diz. Cada vaca, da raça Guzerá,
é comercializada ao preço de 5 mil reais. No caso mostrado no programa da TV
Globo, as senhoras ruminantes partiam de Natal-RN rumo ao Senegal,
país da costa ocidental africana. Seu nobre destino: serem doadas a famílias
pobres para produção de leite.
Imediatamente me lembrei do curta
“Si J’avai une vache” que assisti na
Mostra de Cinema Ambiental FICA 2014. Trata-se de um pequeno grande filme.
Pequeno porque é um curta, porque não tem grandes pretensões autorais,
estéticas. Grande porque volta suas lentes (e atrás delas, a emoção de quem
filma e edita) para uma história simples, mas carregada de significados. E a
filma com delicadeza e competência. Uma história que nos enche o coração de um
sentimento reconfortante, cada vez mais raro de se sentir e que pode ter vários
nomes: alegria, esperança, empatia, fé...
O curta de Norma Nebot é singelo,
quase infantil, por isso guarda uma verdade própria das crianças, aquelas a
quem ainda é permitido ser criança. O filme se apresenta como “uma história de
amizade” e acompanha a rotina de uma comunidade, em Burkina Faso, onde “quem
tem uma vaca é rico”. É tocante ver como compartilham o cuidado daquele animal,
fundamental para sua alimentação. Como entendem a importância de cada um na
manutenção daquela fonte de vida.
Acostumados que estamos a ver,
ainda que nos reis do gado da TV ou nos jornais e revistas, a boiada gorda que
ocupa grande parte de nosso território, nos surpreendemos com o valor que aquelas
vaquinhas magras têm para o povo daquele país. E como eles, longe de disputarem
propriedade e poder, se unem para ter os benefícios que uma vaquinha de leite
pode dar a uma comunidade pobre. Para aquela gente, uma vaca que dê leite é uma
preciosidade, cuidada com todo carinho.
Já falaram das muitas coisas expostas
nas vitrines sedutoras dos shopping
centers das quais não precisamos para sermos felizes(1). E as vitrines
seguem cada vez mais sedutoras e variadas e as pessoas não necessariamente mais
felizes.
Mas eu fiquei muito feliz em saber
que vaquinhas brazucas estão cruzando o Atlântico para servir a irmãos
africanos. Viajando de avião, estas vaquinhas me lembram o delicioso filme hermano “Um conto chinês” (2), uma
história que liga China e Argentina e onde duas vacas, cada uma a seu turno,
são protagonistas de tragédia e de redenção. Que estas vaquinhas, que aproximam
Brasil e Senegal, só protagonizem alegria e prosperidade. Bon voyage, madames.
Assista aqui ao trailer deste filme
delicadeza:
(1)Texto de Frei Betto:
(2) Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=K5lTnxBl-OE
Nesta matéria você fica sabendo
mais sobre a aventura oceânica das vaquinhas potiguares : http://tribunadonorte.com.br/noticia/criadores-do-rn-exportam-gado-guzera-para-o-senegal/302600