Não apenas a pequena e talentosa Quvenzhané Wallis surpreende, como todo o filme de Benh Zeitlin foge ao lugar comum. Isso não é necessariamente um elogio, já que o longa tem lá seus tropeços, mas é sem dúvida uma abordagem audaciosa de um tema que normalmente transita entre momentos doces e momentos lacrimejantes.
A menina Hushpuppy vive numa espécie de gueto aquático, cercada de adultos que temperam com muito álcool seu discurso ambientalista e anti-consumismo. Tal como as marolas do alagado onde vivem – conhecido como a “Banheira” - os personagens oscilam entre homéricas bebedeiras e a defesa de um estilo de vida, digamos, natural, uma volta do homem ao estado primitivo, longe da comida pronta dos supermercados.
A sutileza da relação da garota com os bichos – escutando seu coração e reconhecendo-se também como um animal – choca-se com o ambiente onde vive, onde reina o caos e a imundície. Sim, este não é um filme para estômagos delicados. Gera um desconforto que por vezes até dificulta manter os olhos na tela.
Indomável Sonhadora, em diferentes momentos, lembrou-me, Distrito 9 (Neill Blomkamp, 2009), com seus seres fantásticos, sua favela e as manobras para desocupação, e A árvore da vida (Terrence Malick, 2011), por enveredar numa espiral onde homem e natureza se entrelaçam.
Sem trocadilhos, o jovem diretor poderia ter feito um filme mais enxuto, com menos câmera na mão e roteiro mais redondo, mas sem dúvida é um filme que se destaca na recente produção norte-americana.
INDOMÁVEL SONHADORA (Beasts of the Southern Wild)
EUA, 2012, 93 min
Direção: Benh Zeittin
Roteiro: Lucy Alibar, Benh Zeitlin (baseado na peça Juicy and Delicious, de Alibar)
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