quarta-feira, 12 de novembro de 2008

CINE GAIA – MEIO AMBIENTE NO CINEMA (parte 1)




O I Festival de Cinema Ambiental do Jardim Botânico do Rio de Janeiro se encerrou no último domingo. Foram dez dias de exibições gratuitas no JB – num belo teatro onde paredes de vidro nos deixam ver um pouco do verde lá fora – e no Centro Cultural dos Correios. Assisti a menos filmes do que gostaria, mas dos que vi guardei boas lições e lembranças. Na recepção, gente simpática e atenciosa. Até me pediram um depoimento que, apesar de mais acostumada a escrever do que a falar para câmeras, concordei em dar, no desejo de colaborar com um evento tão bem-vindo. A divulgação, ao que parece, é que não foi eficiente o bastante, pois o público era reduzido. Uma pena! Mas este foi só o primeiro. Que venham o II, o III e muitos mais. E que as salas de exibição se multipliquem pela cidade e estejam cheias de gente de todas as tribos.

CENA 1 – Noilton Nunes e Pedro Sol aproveitaram o kuarup de Orlando Villas Boas, em 2003, para abordar várias questões ligadas aos povos indígenas. Seu filme mostra a atuação de líderes como o pajé Sapain e os caciques Aritana e Raoni na luta pela preservação do parque do Xingu. KUKA HITCHUTI é o nome de seu filme, palavras que significam algo como: você já abriu os olhos? Com esta pergunta as crianças acordavam a equipe que permaneceu na aldeia durante as filmagens. Os realizadores transferem para a platéia a pergunta, para que não percamos de vista as ameaças que o avanço do cultivo da soja e da pecuária, atividades incentivadas ou toleradas por autoridades, representa não apenas para os povos do Xingu, mas para todo o planeta.

CENA 2 - As vítimas do acidente com o Césio-137 de Goiânia ganharam voz no documentário O PESADELO É AZUL (uma alusão à luminosidade azulada emitida pelo material radioativo), de Ângelo Lima. Contam como perderam tudo, a falta de informação, o tratamento inadequado que tiveram por parte das autoridades. Foram discriminados pela população, vítimas da ignorância. Sofrimento físico e moral que perdura até hoje, 21 anos depois que catadores de lixo encontraram a cápsula com o Césio, abandonada numa clínica de radiologia desativada pelos donos e esquecida por quem deveria fiscalizar, e a violaram, na intenção de vender o metal para um ferro-velho. No material de arquivo, Fernando Gabeira aparece denunciando que a população deveria ser bem informada sobre o que ocorria para poder lutar junto naquele que foi o maior acidente radioativo do mundo (mais grave que Chernobyl). E perguntava: “Como colocar uma casa no lixo?”, referindo-se à contaminação que atingiu pessoas, casas, animais, meio ambiente. A Fundação Leide das Neves (menina de 6 anos, morta pelo Césio) criada para dar apoio às vítimas, não atende a todos, denunciam os moradores de Goiânia.

CENA 3 – ITATIAIA: VISTO POR DENTRO – Aqui o azul não é mortal, é uma das muitas cores que invadem a tela numa poesia visual, como definem os realizadores Christian Spencer e Gibby Zobel. Os nomes são estrangeiros, mas a produção é nacional e leva o espectador a um passeio de 23 minutos pelas belezas da Mata Atlântica, acompanhado por uma trilha sonora composta pelo homem e pela Natureza. As estrelas deste espetáculo são aves de colorido inacreditável, o Muriqui (maior primata das Américas) e a jaguatirica, que desfila silenciosamente pelas veredas da floresta. Um show!

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