domingo, 26 de agosto de 2018

CRÔNICAS RUSSAS – MOSCOU (4): Parque da Vitória/Museu da Grande Guerra Patriótica



Teoricamente, a viagem terminaria no dia 20/09, mas, de fato, este 19/09 é o último em Moscou. A saída do hotel teria de ser na madrugada, já que o aeroporto Domodedovo (Домодедово) fica a 50 km da capital e o voo com destino a Lisboa estava marcado para as 7:20h da manhã.

Começamos este dia de despedida da Rússia com a visita ao Parque da Vitória (Парк Победы), onde fica o Museu da Vitória (Музей Победы). Para algumas pessoas que estavam no grupo, apenas mais um lugar turístico para fazer selfies, com caras e bocas (momento vergonha alheia). Para mim, e outros mais, um local que pede respeito e reflexão. E emociona tristemente.

O parque foi inaugurado em 1995, celebrando os 50 anos do fim da Grande Guerra Patriótica, como os russos se referem à 2ª Guerra Mundial. E é um sítio histórico. No local onde o Parque foi erguido, acredita-se, Napoleão esperou que os russos lhe entregassem a chave da cidade de Moscou, ou seja, que se rendessem. Era o ano de 1812 (veja o que contam os historiadores aqui).

Caía uma chuvinha fina quando chegamos. É um espaço que, como de costume na Rússia, impressiona pela grandiosidade. Além do Museu propriamente, são vários símbolos que lembram a guerra e os combatentes, como o fogo perene, as coroas de flores, colunas, inscrições, monumentos, destacando-se o que retrata São Jorge decepando a cabeça de um dragão, o nazismo. 













O Parque tem uma mesquita, uma sinagoga e uma igreja ortodoxa. Esta, dedicada a São Jorge (santo venerado no país), estava incluída em nosso roteiro. Descobri depois que Yuri, nome comum na Rússia e inclusive do fundador de Moscou, é uma forma diminutiva do grego Georgios, que corresponde ao nosso “Jorge”. 







  

Fomos então para o Museu onde, já na entrada, passamos pelo Hall da Tristeza, onde 26 mil lágrimas de cristal simbolizam os 26 milhões de soviéticos mortos na guerra. Sim, 26 milhões. Passamos por vários bustos e quadros retratando oficiais e o líder da URSS na época, Stalin (Сталин).


Hall da Tristeza





 Seguimos por salas onde painéis e dioramas (apresentação tridimensional) retratam de forma muito realista etapas da guerra, como o cerco a Leningrado (hoje São Petersburgo) e a agonia de seus habitantes, condenados a morrer de fome e frio, e a terrível batalha de Stalingrado (hoje Volgogrado). Um realismo que impressiona fortemente. Às lágrimas de cristal, juntei algumas que me escaparam.
 



Stalingrado / Volgogrado

Leningrado/São Petersburgo bombardeada, com a cúpula da igreja de Santo Isaac ao fundo














Exército Vermelho na Praça Vermelha, com a Catedral de São Basílio ao fundo
 Com base em fotos da época, foram reconstruídos ambientes de batalha, muros com inscrições feitas pelos soldados durante o assalto a Berlim e a tomada do Reichstag. Vemos ali nomes de combatentes, como Serguei (Сергей), Nicolai (Николай), e de cidades, como Kiev (Киев) e Berlim (Берлин), além do grito de vitória “hurra” (ура). E a data 10.5.45.

 







Soldado do Exército Vermelho finca bandeira da URSS no topo do Reichstag. Berlim, maio de 1945  foto de Yevgeny Khaldei (reprodução na internet)

Subimos depois a escadaria que leva ao Hall da Fama, onde encontramos mais homenagens às vítimas da guerra, como a imensa estátua de um soldado e os nomes de heróis, militares ou civis, gravados nas paredes. Ali assistimos a uma projeção na cúpula reconstituindo batalhas, bombardeios. 











Na saída, passamos pelo monumento em homenagem aos judeus vítimas do holocausto nazista. Tudo o que vemos neste impressionante Museu nos dá claramente a dimensão do que foi, e é, a 2ª. Guerra Mundial - a Guerra Patriótica – para o povo russo. Está acima de qualquer corrente política, crença religiosa ou ideologia. 
Monumento aos judeus mortos pelos nazistas




Bem, depois de experimentar sensações que deixam o coração da gente mais sensível e apertado – experiência tão necessária quanto é viver as alegrias –, seguimos para uma etapa mais amena: conhecer algumas estações do famoso metrô de Moscou. Para não estender muito esta postagem, vou deixar este tour pelas estações, e outros momentos deste dia de despedida, para a próxima e última crônica.