domingo, 22 de outubro de 2017

CRÔNICAS LUSITANAS (6): UM PULO ALI NA ESPANHA + BRAGA E GUIMARÃES



Seguindo a viagem, faço um triste desvio neste relato para falar dos rastros dos incêndios que, já visíveis na ida de Coimbra para o Porto, ficavam mais evidentes quanto mais seguíamos para o norte de Portugal, rumo à Galiza. A chuva que nos acompanhou por boa parte do caminho até era bem vinda. Nos dias seguintes, quando de Évora voltávamos a Lisboa, também presenciamos a destruição na beira das rodovias e mesmo ao longe, nos morros onde a vista alcançava. 






Agora, enquanto rememoro e escrevo sobre a viagem, recebo por diversas mídias a triste notícia de que o fogo continua devorando Portugal. O mais assustador é ver notícias e artigos que apontam como causa dos incêndios – se não todos, muitos deles – ações criminosas, sejam de loucos incendiários ou de políticas irresponsáveis ou, no mínimo, equivocadas. Este artigo postado dias atrás no Facebook – publicado originalmente em 2013, mas tristemente atual – descreve com clareza a situação. Nos telejornais a que assistia, nos quartos de hotel, as questões que o autor aponta apareciam com frequência.




Retomando o curso da viagem para a região da Galícia, ou Galiza, passamos por Valença, última cidade portuguesa, e cruzamos a ponte sobre o Minho, na fronteira com a Espanha, ainda pela manhã, sob chuva e baixa visibilidade. 
Obras de ampliação da ponte





Nessa rota está Vigo, cidade que tomou meu imaginário desde os anos 1960, nas aulas de literatura no Colégio Visconde de Cairu, quando aprendíamos as lindas Cantigas de Amigo, escritas no português/galego medieval. 

Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo, e ai Deus se verrá cedo?...”. Nunca esqueci. 

O Grupo Corpo, companhia de dança mineira, criou o espetáculo “Sem Mim” inspirado nessas cantigas.






Com esse misto de emoções, cheguei a Santiago de Compostela. A cidade não me pareceu muito diferente da que tinha conhecido dez anos antes (o que são dez anos para "quem" está lá há séculos?). Construções imponentes e uma sensação um tanto pesada, não exatamente opressora ou angustiante. Austera, talvez. A chuva que insistia em cair, ainda que mais branda do que na estrada, não ajudava muito e desisti de permanecer na imensa fila para entrar na igreja, visitar o túmulo e abraçar a imagem do apóstolo Santiago, por trás do altar. Quando passei por ali, em 2007, senti um certo desconforto, pois recolhiam doação em dinheiro naquele momento e local. Não sei se ainda funciona assim. 




Fachada, em 2007
Fachada sendo restaurada, 2017



 


















Não abracei Santiago, mas consegui entrar facilmente na igreja por outra porta e fazer minha saudação ao santo que leva tantos peregrinos àquela cidade. A passagem destes grupos é emocionante. 


Altar principal, com a imagem de Santiago
  
Compostela, segundo alguns pesquisadores, vem do latim Campus Stellae (campo da estrela), numa referência à estrela que teria indicado a localização do túmulo do apóstolo Santiago de Zebedeu, no século IX. A cidade tornou-se um importante centro religioso e de peregrinação, desde a Idade Média. Aqui você fica sabendo mais sobre esta história.


Circulei um pouco pelos arredores, descolada do grupo, já me conformando em ter de almoçar sozinha. Por sorte, ou milagre, reencontrei, naquele mundo de turistas, um simpático casal de Minas que viajava na excursão. Fui de pescado espanhol, um dos melhores almoços que tive durante toda a viagem à Europa, o que não significa nada excepcional, mas é que de modo geral a comida gringa me faz ter saudades do fogão de casa.









Deixamos a cidade dos peregrinos rumo a Braga, cidade que foi minha base na viagem de 2007, por conta da irmã que estava por lá fazendo o doutorado na Universidade do Minho. Braga, a Bracara Augusta dos romanos, é muito linda. Como nossa excursão chegou pela parte superior do Santuário do Bom Jesus do Monte, não passamos pela cidade e também não chegamos a descer pelo elevador/funicular para ver o santuário de baixo, com sua incrível escadaria. A chuva havia ficado para trás e um sol forte entardecia defronte do Santuário.

Santuário Bom Jesus do Monte

  






Escadaria ou escadório, como chamam. Foto da wikipédia
 Fim do dia, rumamos para Guimarães, cidade considerada o berço de Portugal. Como chegamos à noitinha, o tour ficou para o dia seguinte. Jantamos no Centro Histórico (Patrimônio da Humanidade), no restaurante Buxa, servidos por um jovem garçom mineiro que trocou o Brasil por Portugal há algum tempo. Enquanto jantávamos, Chaplin se exibia numa sessão do cineclube local, ao ar livre.


Manhã seguinte, pé na estrada de novo, fazendo antes o tour de praxe. Além do Centro Histórico, passamos pelo Paço dos Duques de Bragança, Castelo e Capela de São Miguel. Queria muito visitar novamente o interior do castelo, como em 2007, mas ainda estava fechado e a excursão tinha de seguir (sugeri à Abreu rever este roteiro, Guimarães merece). Não sei se teria de novo habilidade para subir à parte mais alta, passando por uma estreita abertura no topo de uma íngreme escada, mas ia tentar. A emoção e a vista valem a pena.

Centro Histórico, Restaurante Buxa à esquerda




Foto da Wikimedia
 


Jardim defronte à Igreja N.Sra. da Consolação. Um nevoeiro encobria a paisagem.

Os filmes são exibidos sob os arcos do Centro Histórico
 
Paço dos Duques de Bragança
 
D.Affonso Henriques, o cara.
 

Castelo de Guimarães, envolto em névoa.
 



Minha visão do Castelo, em 2007.
Vista a partir da murada mais alta do Castelo, clicada em 2007.

Dessa fascinante cidade, seguimos para o Vale do Douro, rumo a Viseu, passando por São Gonçalo do Amarante e Lamego.


Foto Guimarães:

Foto Braga:

 

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