terça-feira, 10 de outubro de 2017

CRÔNICAS LUSITANAS (4) – ÓBIDOS, BATALHA, FÁTIMA, COIMBRA

  Um dos lugares que mais me marcaram quando estive em Portugal em 2007 foi Óbidos. Essa pequena cidadela medieval encheu meus olhos tupiniquins, então debutando numa viagem internacional. Se dez anos pesam na perícia em escalar muralhas, já o encanto é o mesmo. A vontade é de esquecer o tempo naquelas vielas.


E o tempo conta por essas terras desde 308 a.C., com a presença dos Celtas. Depois vieram os Romanos, os Visigodos e os Mouros, até que no século XII, em 1148, D. Afonso Henriques tomou Óbidos. A data, 11 de janeiro, é feriado municipal.
 
Esta beleza dá as boas vindas aos visitantes.









O interior do castelo não é aberto à visitação, imaginava eu que por motivo de segurança, por não estar preservado. Vê-se, aliás, vestígios de obras no entorno, provavelmente de manutenção. 
 
No entanto, pesquisando para este texto, descobri que nos anos 1950 foi transformado numa pousada. Que tal um pernoite ao estilo dos reis? Não tão próximo de Lisboa como Sintra, Óbidos (a 80km da capital) também é de fácil acesso, tanto por carro, ônibus (autocarro) ou trem (comboio). Ou seja, mesmo por conta própria, dá para conhecer essa joia portuguesa (veja aqui) num bate e volta e até curtir algum dos eventos locais. 
Igreja de Santa Maria, matriz de Óbidos
 

Exigiu um certo esforço, mas consegui subir na muralha
 Depois de testar o fôlego e a habilidade de subir em muros seculares, segui com a excursão rumo a Fátima, não sem antes tomar uma dose de ginjinha no copinho de chocolate (1 euro). Delícia!

No caminho para Fátima está uma das construções mais magníficas que vi na vida: o Mosteiro da Batalha, como é conhecido o Mosteiro de Santa Maria da Vitória. Um pecado o roteiro da Abreu não dedicar um tempo maior a esse incrível monumento da arte e do sacrifício humanos, Patrimônio da Humanidade pela UNESCO desde 1983, e onde está sepultado o Infante D.Henrique, “O Navegador”.
Ainda da autoestrada tem-se a visão das soberbas torres góticas. Um misto de susto e surpresa para os desavisados. Sua construção durou mais de 150 anos e é fruto de uma promessa feita pelo rei D. João I, em agradecimento pela vitória na batalha de Aljubarrota, em 1385. 


Suas paredes e colunas parecem rendas delicadas, bordados minuciosos.
 








Tive de me contentar em vê-lo por fora e parcialmente a igreja. O acesso aos claustros e jardins e às chamadas Capelas Imperfeitas (inacabadas, mas pura perfeição!) levaria mais tempo que o disponível. Estas fotos são de 2007.

 

 









 


Digerindo alguma frustração, vamos em frente. O roteiro é longo e cobre boa parte do território português.






 O Santuário de Fátima é um destino obrigatório nas excursões portuguesas e se justifica pelo significado religioso, num país católico. Beleza arquitetônica não é seu forte, convenhamos, ainda mais para quem acabou de passar por Batalha. Mas, crente ou não, vale aproveitar a visita para alimentar o espírito, a alma, acalmar a mente, sendo conveniente, para isso, convocar a paciência, caso pretenda embarcar na compra de lembrancinhas.








Depois do espírito, o intelecto. Coimbra foi capital de Portugal até 1256 e sua Universidade é a mais antiga do país, fundada em 1290. O rio Mondego está para ela como o Tejo está para Lisboa. A grande vantagem de lá ter voltado foi poder visitar a Biblioteca Joanina (visita pré-agendada pela agência Abreu e se perder o horário, já era!). Impressionante, com suas centenas de livros seculares e estantes revestidas com folhas de ouro. A belezura só pode ser admirada, nada de fotos. Mas você pode fazer um tour virtual 360º aqui. Vale a pena, garanto.

Parece lenda, mas é verdade: o controle de pragas que poderiam danificar os livros é feito por morcegos. Bem escondidinhos de dia, à noite eles saem à caça de minúsculos insetos. O que eu não daria para assistir a esse espetáculo!

Mais uma vez achei o Brasil em Portugal. Fiquei pensando no Real Gabinete Portuguez, aqui pertinho, no Centro do Rio, visita tantas vezes programada e sempre adiada. 



A fachada da biblioteca sendo restaurada


O Rio Mondego ao fundo


 Em Coimbra, visitamos ainda a capela da Universidade, outro exemplo da fina arte portuguesa. Minha cabeça de cinéfila já fica imaginando uma cena de casamento ali, com a noiva, depois da cerimônia (ou, quem sabe, fugindo dela) esvoaçando pelo imenso pátio. Será que alguém já filmou uma sequência assim?








Rumamos depois para a cidade do Porto, da qual guardava ótimas lembranças. Bem, como disse na primeira crônica dessa série, muita coisa estava mudada. A cidade com um trânsito que beira o caótico, motoristas que nem sempre respeitam a sinalização, cruzamentos confusos, além de obras e tapumes, ou seja, um tanto tenso caminhar pelas ladeiras que levam à Ribeira. Mas consegui testar meu sentido de orientação e encontrar lugares guardados na memória. No próximo capítulo.


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