segunda-feira, 14 de agosto de 2017

DIA DO PEDESTRE



Na última terça-feira (08) foi comemorado o Dia Internacional do Pedestre. Confesso que, pedestre profissional que sou, não sabia da existência desse dia. Na verdade, não me sensibilizo muito com esse negócio de “dia disso”, “dia daquilo”, mas, neste caso, achei bem oportuno. Até porque não implica necessariamente uma corrida louca às lojas para comprar presentes.

Em nome de uma suposta modernidade, em muitas cidades espantou-se o pedestre para abrir espaço para avenidas de alta velocidade ou para estacionamentos. As rodas passaram a ter mais importância do que as pernas. No Rio de Janeiro, a Barra da Tijuca é um exemplo dessa visão equivocada de cidade. Pedestres não são bem vindos por lá.

 Por sorte, algumas luzes surgem no final desse túnel, e não são carros vindo em nossa direção. E nem aquelas falsas luzes que só servem para iludir o eleitor ou para justificar obras superfaturadas. Algumas cidades pelo mundo estão priorizando o bípede humano em detrimento do motor sobre rodas, seja oferecendo transporte público de graça, ou expandindo ciclovias, ou cobrando taxas para que veículos circulem por determinados perímetros. Ou redesenhando as cidades para que as pessoas não tenham que fazer longos deslocamentos para a escola, o lazer ou o trabalho.



O automóvel é ótimo. Um excelente artefato, como a máquina de lavar, o freezer, o liquidificador, o aspirador de pó. Uma máquina, como dizem os italianos (macchina) e os russos (машина). Como tudo na vida, é bom se bem usado. O bem que proporciona não pode ser menor do que os danos que possa causar. Como a crescente poluição do ar que respiramos e o aumento da temperatura nas metrópoles, criando as ilhas de calor.
 

Jane Jacobs não era urbanista de formação, ou arquiteta, e sim jornalista. Mas – ou por isso mesmo - teve a compreensão, décadas atrás, de que uma cidade deve ser comunicante, espaço de socialização. O arquiteto dinamarquês Jan Gehl também trilha esse caminho e defende a cidade para pessoas, título de um belo livro seu.

Este tema puxa lá do fundo de minha memória um magnífico conto do mestre Ray Bradbury (falecido em 2012, aos 91 anos), O Pedestre (The Pedestrian). Tido como autor de ficção científica, Bradbury rejeitava esse rótulo. De fato, era isso e muito mais. Escrito nos anos 1950, o conto é ambientado no ano de 2053, quando o simples ato de caminhar pela cidade seria uma infração.

O pedestre solitário de Bradbury pode ser o último exemplar do flâneur descrito por Walter Benjamin. Uma espécie que já nestas primeiras décadas do século XXI talvez esteja ameaçada de extinção. Tomara que não.

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