sábado, 20 de fevereiro de 2016

MISTURANDO FLORAIS DE BACH COM JOHN GREEN



Inclinava para trás a cabeça enquanto pingava na boca os florais de Bach e então pensei que um dia olharia para um teto outro, sabendo que Ela estaria atrás da porta, pronta para me levar. A da ceifadeira. Talvez por estar lendo John Green e aquela história sobre a garota Hazel Grace, o namorado e seu câncer terminal.

Bem, talvez nem tivesse a chance de olhar outro teto, aquele que sempre aparece nas cenas de hospital, muito iluminado, passando ligeiro por sobre quem está deitado na maca (um sujeito baleado ou infartado, levado às pressas, cercado de pessoas de branco ou verde).

Pode ser que Ela venha sorrateira, com pezinhos silenciosos, sapatilhas de seda, sem ruído algum. Ou, ao contrário, batendo os saltos das botas pesadas.

Pode ser que venha rápida e rasteira, nem deu tempo daquela coisa de hospital e gente apressada vestida de verde.

Pode ser que bata à janela, como chuva ou um passarinho, como que dizendo “cheguei enfim, vamos que a viagem é longa”.

Pode vir montada numa bala perdida, num trem descarrilado, num ônibus que cai do viaduto, num avião que desaprende a voar.

Pode vir simplesmente porque tem de vir mesmo, o corpo já não está dando conta de fazer as milhares de conexões, transposições, trocas, sínteses e processos químicos que o status ser vivo requer. 

Certo mesmo é que virá. E aí, meu parceiro, como diria um certo Capitão (que não é o Rodrigo), não adianta pedir pra sair. Ah, mas eu queria terminar aquele projeto... viajar pro Butão... plantar um pé de caqui... usar aquela roupa novinha, ainda está com a etiqueta... Esquece. Quando Ela vem, não tem Rescue Remedy que dê jeito. 



Fotos: Noiva Cadáver (Corpse Bride, 2005) e O Estranho Mundo de Jack (The nightmare before Christmas, 1993) 
A culpa é das estrelas (The fault in our stars), John Green