domingo, 31 de agosto de 2014

PALAVRAS... PARA VER E OUVIR

O Caderno Boa Chance do jornal O Globo deste domingo traz duas matérias interessantes em sua última página. Uma aborda o poder da identidade visual, estratégia adotada por restaurantes do Rio para atrair clientes. A outra traz uma breve entrevista com Jean Phillippe Rosier, publicitário diretor da Perestroika.

Numa era marcadamente visual, como a que vivemos, a imagem ganha uma relevância maior do que nunca, facilitada pelas novas tecnologias, não só de captação como de difusão e reprodução. Esta comunicação mediada essencialmente por imagens tem, sem dúvida, vantagens evidentes, como o apelo fácil e a rapidez de transmissão da ideia que se pretende veicular.

Contudo, como o excesso pode ser tão danoso quanto a falta, a profusão de imagens com que somos bombardeados diariamente, dentro e fora dos espaços fechados, também gera dispersão, confusão, alheamento. Por isso, ressalta da matéria o fato de que, aliada ao aspecto visual caprichado, a mensagem não se limite a formas e cores, mas contenha também palavras.

Se a embalagem da geleia é atraente, o rótulo que nos diz “Eu só quero adoçar seu dia” vai além da sedução pela imagem, tal como a do pão que alerta “Cuidado: Pão quente derrete corações”. Boas e velhas palavras, nos confidenciando, segredando, quase um galanteio. Como resistir?

E onde Philippe entra na história? Ele conta sobre um encontro chamado PTTOW, coisa de “cachorro grande” do mundo dos negócios, onde compareceram, em maio, líderes da Apple, Red Bull, Google... etc. O tema era “como realizar o impossível” e perguntado pela repórter da coluna, Rosier teve a sensatez de responder que não saíram de lá com fórmulas mágicas, mas deu dicas: recomenda propósito, coragem,  paixão e determinação para se chegar a algum lugar.

Mas o mais legal é que ele tem a sensibilidade de observar que, em meio à revolução digital que fascina a todos, precisamos resgatar valores mais humanos, mais verdadeiros. Parece óbvio, mas pelo que se vê por aí é algo em que não se tem prestado muita atenção.

Acredito que uma boa forma de seguir esses passos é dar mais atenção às palavras. Escritas, faladas, rabiscadas, sussuradas. Atenção ao que se lê e escuta, atenção ao que se fala e escreve. Cuidando da sua forma, do seu ritmo, do seu lugar e hora. Afinal, são elas que carregam o que sentimos e pensamos. Carregam o que somos, enfim.