segunda-feira, 21 de julho de 2014

A COPA E O MUNDO





Vai com algum atraso, mas acho que está valendo:

Vai ter Copa, não vai ter Copa. Vai ter tiro, porrada e bomba. Vai ter festa. Pegação. Cerveja (muita). Polícia (muita). Alegria e tristeza (muitas).



A Copa está aí, rolando como bola, e é engraçado ver algumas postagens no FB. Gente que demonizava a Copa meses atrás, hoje não perde um jogo. Isso não é uma crítica, muito menos um deboche (coisa que não pratico). É apenas uma constatação, daquelas que a gente faz com um sorrisinho no canto da boca.



Um certo partido político tinha como lema: “sem medo de ser feliz”. Que assim seja, pelo menos por alguns momentos. Vamos curtir nossas cidades cheias de gringos e brasileiros de outros estados, vamos viver a vibração que atravessa o ar poluído de nossas cidades, como uma onda magnética. Isso não é alienação. O mais lindo das Copas são as gentes, as caras pintadas de muitas cores e as próprias caras de diferentes cores. É ver estranhos abraçados. É ver respeito nas derrotas. São os sotaques, os idiomas estrangeiros. Sons que provocam nossos ouvidos e desafiam nossas línguas.



Que sejamos tolerantes e benevolentes, mas igualmente atentos. Nosso direito de gritar gol, de cantar hino emocionado, de xingar, de ir aos estádios, bares, esquinas é legítimo. Como é legítima nossa luta para uma sociedade onde alegria não seja sinônimo de irresponsabilidade, irreverência não signifique desleixo, vibração não case com violência, e o conteúdo importe mais que a forma. Que os valores sejam repensados. E o mercado não seja deus. E sejamos parâmetro, e não boi na boiada.



Futebol é jogo de equipe (team), na sua essência carrega valores como solidariedade, respeito. É um espetáculo de formas, cores e movimentos sobre um gramado, a céu aberto. Um belo cenário. Mas é belo também em cada campinho improvisado, pelos cantos do mundo, onde crianças jogam descalças e usam qualquer coisa para servir de bola e de baliza.



O francês Alain Bergala, relatando sua própria experiência, afirma que para os ”deserdados, distantes da cultura [...] a única chance de existir é resistir a partir de uma paixão pessoal”. No caso dele, foi o cinema. Quantas vidas já foram salvas pela arte, pela devoção, pelo esporte, pelo futebol? Futebol e cinema, para mim, têm tudo a ver. Puro movimento.



Mais do que qualquer outro esporte, o jogo da bola no pé provoca paixões, tristezas indescritíveis, alegrias que estouram como fogos de artifício. Enfim, agita no fundo de cada um, emoções e sensações sem as quais não se pode viver plenamente. Então que não nos falte a bola de couro, o balão, a gorduchinha, a pelota. Seja nas Copas, Libertadores, nos Brasileirões, Cariocas, Séries A, B, C.... E que exista não para substituir, mas para somar.

terça-feira, 1 de julho de 2014

DE MOÇA BONITA ÀS ARENAS DO FULECO

O professor de História do Curso de Especialização em Sociologia Urbana, na UERJ, nos pediu uma crônica sobre o Rio de Janeiro. Com a Copa batendo à nossa porta, saiu isso aqui:

A distância que separa o Rio de Janeiro do século XIX do Rio do século XXI é a mesma que existe entre a chuteira que os jogadores de futebol calçavam na Copa de 1930 e as personalizadas que usam hoje, desenhadas e fabricadas com altíssima tecnologia.


Ainda que aparentemente sejam assuntos incompatíveis, na verdade têm muito em comum. A “força da grana que ergue e destrói coisas belas” se fez sentir tanto sobre a arquitetura da cidade – e consequentemente sobre a vida dos seus habitantes - quanto sobre o “rude esporte bretão” que há mais de um século apaixona homens e mulheres de todas as latitudes.

A camisa, símbolo maior para qualquer torcedor e que marca sua identidade em meio à multidão aparentemente homogênea para os leigos, transformou-se em outdoor móvel. Tudo é mercado, tudo é mercadoria.

Estádio virou Arena, as competições têm nome e sobrenome – Santander Libertadores, Copa de Futebol Fifa – técnico é professor, jogador é modelo de peças íntimas, atleta faz publicidade de cerveja... 


Estádio Moça Bonita ganhou cadeiras do Maracanã
 












Em Bangu, Moça Bonita é um estádio que se proclama proletário. Mas moça bonita virou periguete, o canarinho voou e um Tatu com crise de identidade deixou de ser Bola, nome óbvio para símbolo de um campeonato de futebol, para virar Fuleco.

Mas a gente protesta, e celebra e troca experiências, afeto, atentos ao cuidado com nosso planeta, nossa cidade, como outro. Sem esquecer que a História é um processo, que se repete, renova, deixa traços, bons e maus.

Que não nos faltem “engenho e arte” para sermos agentes de uma História, não engessada num padrão FIFA, mas feita de espontaneidade, consciência e solidariedade. De desenvolvimento responsável e conquistas sociais para todos.