sábado, 8 de junho de 2013

GIMME SOME TRUTH



No cinema 2 da Caixa Cultural a tela exibe “Estados Unidos x Lennon”. A sala está quase lotada, gente de toda idade. Fãs, curiosos, quem ama os Beatles, quem ouviu falar, quem está ali por acaso...

No outro extremo do mesmo piso, a Mostra “World Press Photo” exibe os horrores da guerra na Síria. E, em meio a algumas belezas e curiosidades, outros horrores também.

O filme desfia a trajetória do Beatle mais rebelde, esmiuçando as ligações que o tornaram persona non grata nos EUA. A atualidade da história que vemos se desenrolar diante de nossos olhos é impressionante. Naquele final dos anos 60 e começo dos 70 eu, e acredito que muitos outros, não tinha conhecimento da dimensão dos protestos que agitavam a América. Não me recordo bem... em 1970 eu havia concluído o que hoje é o ensino médio (ou 2º grau... mudam os nomes e o ensino só piora)  e tivera de parar os estudos, para trabalhar. Não convivia num ambiente onde se conversasse sobre política, a situação do país... enfim, vivia alienada. Sob a forte censura da ditadura militar, a imprensa não trazia muita informação.

Os Beatles, juntos ou separados, eram então “apenas” caras geniais, reunidos por uma maravilhosa conspiração dos astros, que revolucionaram a música e com tal qualidade que suas obras estão aí até hoje, com o mesmo vigor. Mas o garoto rebelde de Liverpool, rejeitado pelo pai e, de certa forma, também pela mãe, criado pela tia Mimi, queria mais do que dinheiro, fama e prestígio com sua arte.

Olhado por vezes apenas como um astro excêntrico, ou um louco, ou um drogado, ou um sonhador, em suas falas John Lennon revela uma lucidez inquestionável. O garoto que desde criança tinha um único desejo, tocar numa banda de rock, sentiu que tinha de ir além dos palcos e estúdios de gravação. Assim, subiu em palanques, uniu-se aos Black Panthers, protestou em versos e cartazes contra a guerra do Vietnã, enfim, incomodou o FBI, Nixon, Hoover e todo um stablishment. Sempre pacificamente, inspirado por Ghandi e Martin Luther King.

Ironicamente ao empreender uma batalha jurídica contra a Imigração para permanecer nos EUA, estava lutando para ficar na cidade onde, alguns anos mais tarde, seria assassinado.

As imagens permanecem na mente, as músicas ecoam nos ouvidos, enquanto deixo a sala de cinema, olhos marejados, coração maior do que o peito. A garota que amava os Beatles é hoje uma senhora que ainda os ama, de um jeito mais profundo, mais cúmplice. Como queria ter vivido mais de perto, mais intensamente, aqueles acontecimentos!
Aida, foto de Rodrigo Abd

A foto vencedora do prêmio “World Press Photo 2013” se escancara na minha frente. Os conflitos se multiplicam, a mídia mente ou induz ao erro, a publicidade toma conta de todos os espaços, nos entorpece, o excesso nos distrai.

Give peace a chance, gimme some truth... continuamos pedindo paz para o mundo, queremos a verdade, mas parece que hoje nossas vozes, curiosamente, ainda que facilitadas por tanta tecnologia, não são tão potentes como há algumas décadas. 



 

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