segunda-feira, 27 de maio de 2013

Sala Escura: SEM PROTEÇÃO



Sem Proteção é oferecido como um filme de ação. O título em português já sugere isso, porém, mais que uma escolha infeliz, é totalmente inadequado. Seguindo a cartilha de atrair público, e um público cada vez mais massificado, tenta-se vender a ideia de um filme de ação, e só. Mas o filme de Redford é mais que isso e pode decepcionar quem for atrás de pura adrenalina e perseguições velozes. Na sua essência, trata-se de um filme sobre escolhas, idealismo, amadurecimento e, sobretudo fidelidade a pessoas, mais do que a causas. Sobre as ligações que conservamos ao longo da vida, ainda que não percebamos.

As primeiras imagens, em P&B, nos levam aos anos 1970, aos protestos contra a guerra do Vietnã. Aqueles jovens são hoje senhores e senhoras maduros, pais, trabalhadores respeitáveis (ou nem tanto). Um daqueles jovens cabeludos é Jim Grant (Robert Redford), um advogado viúvo, que leva uma vida pacata com sua filha. Ainda que tenham seguido diferentes rumos, apesar da distância temporal ou geográfica, alguns laços ainda unem aquelas pessoas. E elas serão convocadas a assumir posicionamentos, a tomar partido.


Susan Sarandon encarna com a habitual competência a personagem Sharon Solarz, dona de casa, classe média, dois filhos. Ex-integrante do grupo Weather Underground, que cansados dos protestos pacíficos partiram para ações armadas, provocando explosões e praticando assalto a banco, decide revisitar o passado para acertar contas consigo mesma, mais do que com a lei.   Sua prisão pelo FBI irá deflagrar uma série de acontecimentos envolvendo seus antigos parceiros, e pessoas ligadas a eles. Aqueles jovens idealistas serão confrontados com suas convicções, suas contradições e, ainda que tentem apagar o passado, por vezes, palavras denunciam seus valores.

A conexão entre Sharon e Jim Grant é descoberta por um jovem e ambicioso repórter (Shia LaBeouf), disposto a tudo para dar um upgrade na carreira. Forma-se um triângulo, em cujos vértices estão Jim Grant, o repórter e no outro o FBI, cujos agentes se veem comendo poeira no encalço de Jim, sempre precedidos pelo repórter. O que só aumenta o furor com que a polícia se dedica à caça daqueles antigos ativistas, classificados como terroristas.

A acusação maior que pesa sobre o grupo é o assassinato de um guarda durante o assalto a um banco. Oculto sob a identidade que adquirira desde então, Jim Grant (ou Nick Sloan) precisa recuperar o contato com antigos companheiros para provar sua inocência, especialmente com Mimi Lurie (Julie Christie). O elenco tem ainda outras estrelas, como Nick Nolte, Chris Cooper, Richard Jenkins.

O filme de Redford é daqueles filmes que, se não chega a ser impactante, provocador, também não se resume a um passatempo bem feitinho. Ainda que não traga novidades, traz temas sempre válidos, como ética profissional, ligações amorosas e familiares, e consegue manter o espectador ligado na trama. E reforça a ideia de que laços que se formaram num contexto de comprometimento social, de engajamento político, de cumplicidade, ainda que carregado com o exagero dos arroubos juvenis, não se rompem facilmente. Bem oportuno nessa era de velozes e efêmeras ligações virtuais.


SEM PROTEÇÃO (The company you keep)
EUA, 2012, 121 min
Direção: Robert Redford

Roteiro: Lem Dobbs - Baseado no livro de Neil Gordon