domingo, 22 de abril de 2012

Sala Escura: A PERSEGUIÇÃO



O longa de Joe Carnahan é apresentado como um filme de suspense. Se a intenção do diretor é provocar medo, não consegue alcançar o objetivo, salvo por raros momentos. As situações previsíveis esvaziam aquele clima de tensão que os bons filmes de suspense provocam.
As cenas violentas são apenas desagradáveis, mas não assustadoras. Tal qual a mesmice do cenário onde se desenrola a ação, monotonamente branco, a história dos petroleiros, sobreviventes da queda do avião, no Alasca, também segue sem nuances que façam vibrar ou tremer a plateia. As situações são repetitivas e o interesse do espectador não resiste às quase duas horas de projeção. Do modo como foi realizado, o filme caberia melhor no formato curta ou média metragem (aliás, é baseado num conto de Ian Mackenzie, Ghost walker).


Liam Neeson (no papel de Ottway, o líder) está correto, mas já teve melhores papéis em sua carreira. Carnahan abusa do uso de flashbacks para evocar memórias de Ottway , contudo não consegue criar uma conexão suficientemente forte com o mundo interior do personagem de Neeson. O estilo reflexivo de Terrence Malick que o diretor parece querer seguir, não surte o efeito conseguido por Malick em, por exemplo, A Árvore da Vida (2011) ou O Novo Mundo (2005).

Dois filmes vêm à memória: Happy Feet (2006), por mais estranho que pareça, pela mesma monotonia do branco e cenas entediantes e repetitivas, e Na Natureza Selvagem (um filme de Sean Penn, 2008), neste caso por ser o oposto de A Perseguição, ainda que ambos confrontem o homem com as forças da natureza.

Carnahan diz que não pretendia mostrar os lobos como assassinos; talvez quisesse fazer um paralelo com nossos lobos interiores; ou chamar a atenção para os limites da intervenção humana sobre o meio ambiente. Seja qual for a visão que se tenha do longa, o resultado é insatisfatório e deixa uma sensação de que poderíamos ter aproveitado melhor aqueles longos minutos fazendo algo mais interessante.

Neste link http://owstarr.com/ uma campanha de boicote ao filme, em defesa dos lobos. Outro link interessante traz uma matéria do Los Angeles Times sobre a recuperação de uma espécie em extinção e destaca o fato de o filme retratar os lobos com devoradores de homens, o que é contestado na entrevista com Carnahan. http://articles.latimes.com/2012/jan/19/local/la-me-gs-grey-director-joe-carnahan-wolves-win-20120119
A PERSEGUIÇÃO
The Grey
John Carnahan (EUA, 2011, 117 min)
Classificação: 14 anos

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Sala Escura: ESPELHO, ESPELHO MEU

Típica comédia para toda a família, Espelho, Espelho meu é um conto de fadas nada inocente que flerta com a filosofia. E dá até para fazer uma conexão com o filme comentado na postagem abaixo, sendo o espelho o psicanalista que analisa a rainha má.

Além dos efeitos especiais, figurinos e cenários que enchem os olhos, o filme reveste a história de Branca de Neve de modernidade, fazendo eco a questões do século XXI. Além das críticas às cargas tributárias impostas aos cidadãos para financiar guerras, sob o pretexto de combate ao terrorismo (o “monstro da floresta”), há referências a preconceitos, seja contra aqueles cuja aparência não condiz com os padrões de beleza, seja contra os que aparentam ser fúteis ou inábeis, por serem belos.

A questão da vaidade excessiva, mote da história original e fonte de todo o ódio da rainha contra sua enteada, é mais atual do que nunca. Nesta versão, o brutal e hilário tratamento de beleza ao qual a rainha se submete já vale o ingresso.


Julia Roberts consegue dar a sua rainha as nuances perfeitas, sua maldade, sua insegurança. A Branca de Neve de Lily Collins sabe dosar doçura e atitude. E o filme como um todo mantém na medida certa sua porção fábula, sua porção infantil, humor e crítica social, o mundo da fantasia e o mundo real.

E, afinal, ninguém resiste a uma história bem contada.


ESPELHO, ESPELHO MEU

Mirror, mirror

Tarsem Singh (EUA, 2012, 106 min)

http://www.imagemfilmes.com.br/imagemfilmes/principal/filme.aspx?filme=103411

Sala Escura: UM MÉTODO PERIGOSO


David Cronenberg vai ao mundo da psicanálise (ou psicoanálise, como prefere Freud) para tratar da relação entre Carl Jung e Sigmund Freud e mantém, como uma corda retesada, cada um em uma ponta. Esta corda é Sabina (Keira Knightley), a paciente histérica que nos é apresentada logo nas primeiras cenas, contundentes. Jung irá tratá-la seguindo o novo método criado por Freud, a cura pela conversa (talking cure).

Cronenberg vai capturando o espectador menos pelas sutilezas do que pelo impacto. Possivelmente especialistas, gente do ramo, irão taxar o filme de superficial. Contudo, está claro que o autor não pretende realizar um tratado sobre a psique humana.

Confrontando o consagrado psicanalista (interpretado por Viggo Mortensen, excelente) e seu jovem seguidor (vivido por Michael Fasbender), Cronenberg vai expondo as contradições humanas, os desejos inconfessáveis. Tal como os claros/escuros da fotografia, vão sendo desfiados na tela claros e escuros da alma.

Outros confrontos aparecem: judeus x arianos, ciência x tabus sociais e misticismo. Conflitos de ideias que vão gerar novas descobertas.

Freud e Jung se mostram mais humanos, com suas incertezas e conflitos, suas afinidades e discordâncias. Ainda que a narrativa apresente uma certa rigidez formal, o diretor e as corretas atuações garantem um clima que envolve o espectador, possivelmente colocando-o em alguns momentos diante de seus próprios fantasmas interiores.

UM MÉTODO PERIGOSO

A dangerous method

David Cronenberg (Canadá/Reino Unido/Alemanha 2011)

Classificação: 14 anos – 93 min

Site: http://www.imagemfilmes.com.br/imagemfilmes/principal/filme.aspx?filme=103365